Diogo Calado
31/07/2015
“Dank Ostklubs” (Obrigado clubes do leste)! A 3. Liga alemã arrancou no fim de semana passado e só tem a agradecer aos clubes do leste do país pelo arranque da nova temporada ter permitido bater o recorde de venda de ingressos numa só jornada. Texto e fotografia de Diogo Calado em exclusivo para o Mata-Mata.
A 3. Liga é, como o nome indica, o terceiro escalão do futebol alemão. Nela competem 20 clubes, oito dos quais provenientes do leste do país. Oito clubes que no tempo em que o leste da Alemanha era um país independente (República Democrática Alemã ou RDA) se passeavam pelo principal escalão disputando títulos, prestígio e promovendo rivalidades. Caído o Muro de Berlim e reunificada a Alemanha esses clubes se dispersaram pelos escalões inferiores mas nesta temporada de 2015/2016 a 3. Liga reaviva, para os mais nostálgicos, esses tempos antigos.
A primeira ronda disputada no fim de semana passado apenas confirmou as expetativas de que esta será uma temporada disputada até ao limite com dérbis semanais que já levaram as autoridades a considerarem todos os jogos que oponham equipas do leste como jogos de alto risco requerendo a presença de um considerável número de efetivos policiais.
Nos dez jogos da primeira ronda deslocaram-se aos estádios 109 602 espetadores, batendo o recorde anterior que datava de 2008 e que se cifrava nos 104 311. Desses dez jogos cinco foram no leste e só esses fizeram movimentar mais 82 000 adeptos!
O jogo de abertura, um dérbi do leste entre Magdeburgo e Rot-Weiβ Erfurt (2-1) teve 23 079 espetadores. O Dínamo de Dresden, outro histórico do leste, recebeu e venceu (4-1) a equipa B do Estugarda perante 25 300 fãs. Menos sorte tiveram os 15 600 adeptos do Hansa Rostock que viram o seu clube perder (1-2) perante a equipa B do Werder Bremen. Outro dérbi do leste, o jogo entre Energie Cottbus e Hallescher (2-0 e na fotografia), foi presenciado por 9 306 adeptos. A quinta maior assistência (8 800 espetadores) aconteceu também no leste, no nulo entre Erzgebirge Aue (o antigo e histórico Wismut Aue) e Osnabrück.
Na segunda-feira a opinião publicada era unânime no agradecimento aos clubes e adeptos do leste da Alemanha por terem levado a festa e a rivalidade salutar do futebol para dentro dos estádios e sem violência. Se assim vai continuar será difícil de prever, sobretudo quando as contas do campeonato começarem a apertar! Para já há que aproveitar o privilégio de poder assistir a jogos da “terceirona” alemã com assistências que envergonham muitos clubes de primeira noutros países europeus, sobretudo Portugal sempre tão ufano em se considerar um país do futebol.
27/07/2015
O Estádio do Lima foi durante largos anos um dos mais prestigiados recintos desportivos de Portugal com a sua bancada central coberta, o seu piso relvado (inaugurado em 1937) e as suas duas pistas: uma em cinza para o atletismo e outra em cimento para o ciclismo. O que é feito dele hoje? O Mata-Mata foi saber em mais um artigo e fotografia exclusivos de Diogo Calado.
Foi neste enorme descampado que se ergueu um dos primeiros campos relvados em Portugal. Inaugurado em 16 de março de 1924 o Estádio do Lima era propriedade do centenário Académico Futebol Clube, agremiação portuense que andou pelo principal escalão do futebol português nas décadas de 1930 e de 1940 e que hoje se dedica a outras modalidades.
Face às condições precárias do Campo da Constituição, o Estádio do Lima foi utilizado pelo poderoso Futebol Clube do Porto (FCP) por diversas ocasiões, sobretudo na década de 1940. Foi aqui que foi filmada parte da famosa comédia de 1947 “O Leão da Estrela” e foi aqui que se escreveu uma das primeiras páginas da brilhante história internacional do FCP quando, em maio de 1948, venceu num jogo amigável o Arsenal de Londres, que se havia sagrado campeão inglês poucos dias antes, por 3 a 2.
Mas também foi aqui que os Dragões foram derrotados por 6 a 1 pelo novato Clube Oriental de Lisboa numa longínqua e esquecida tarde de 15 de dezembro de 1946. Capítulo esquecido na história do clube portuense fez capa na imprensa desportiva da época nomeadamente em "O Norte Desportivo" e em "A Bola". Na sede do clube lisboeta perduram os nomes daqueles que alcançaram tal feito, hoje inimaginável: Fernando, Albano, Custódio, Morais, Carlos Costa, Leitão, Isidoro, Mário Vicente, Correia Pinto, Carlos França e Bettencourt.
Voltando ao Lima, este foi progressivamente vetado ao abandono a partir do final da década de 1970, sendo alegadamente propriedade da Misericórdia do Porto. Hoje o antigo Estádio do Lima não passa de um terreno baldio onde se escondem partes das bancadas de cimento que relembram que ali passou uma parte importante da história do desporto português. É pelo cinema que as bancadas, a relva e a atmosfera permanecerão imortalizadas mantendo viva a memória do estádio.
20/07/2015
Os treinadores portugueses continuam a "dar cartas" no mundo da bola. Jorge Jesus, José Mourinho, Vítor Pereira, André Villas-Boas e Paulo Sousa sagraram-se campeões nacionais em cinco campeonatos europeus na temporada de 2014/2015. Mas estes são apenas os mais vitoriosos dos 250 treinadores de futebol portugueses além-fronteiras. Texto de Diogo Calado com infografia retirada do jornal português Expresso.
Ao longo da época de 2014/2015 houve sete treinadores de futebol portugueses que se sagraram campeões pelo mundo fora (oito, se incluirmos o futsal, uma vez que Orlando Duarte venceu na Letónia). A saber (tome fôlego para esta lista): José Mourinho, pelo Chelsea (Inglaterra); Paulo Sousa, pelo Basileia (Suíça); Pedro Caixinha, pelo Santos Laguna (México); André Villas-Boas, pelo Zenit (Rússia); Vítor Pereira, pelo Olympiakos (Grécia); Jesualdo Ferreira, pelo Zamalek (Egito); e Jorge Jesus, pelo Benfica (Portugal).
Na época que agora terminou houve cerca de 250 treinadores portugueses (de futebol e futsal) a exercer a profissão no estrangeiro. E o número tem aumentado praticamente todos os anos desde o longínquo ano de 1985 quando Rui Caçador se tornou o primeiro português campeão no estrangeiro, no Costa do Sol, em Moçambique.
Num ano a China passou a ser o país onde estão mais técnicos portugueses: 36. E o número irá aumentar para 50 em breve. A culpa é da Winning League Figo Football, uma rede de escolas de formação que tem como objetivo desenvolver o futebol no país. No início do projeto, em março do ano passado, eram apenas seis treinadores em três cidades.
Hugo Vicente era coordenador da formação do SC Braga (Portugal) antes de partir, em 2013, para a Noruega. Hoje, vive na pequena ilha de Bergsøy, onde coordena toda a formação e lidera a equipa sénior local, da 3.ª divisão. “O maior choque são as condições de trabalho, que metem inveja à maioria dos clubes da I Liga em Portugal”, explica o treinador de 37 anos. E o frio, claro. “No primeiro treino que dei — estavam sete graus negativos — vi um treinador com um fato à pescador e botas de agricultor e pensei: ‘O que é isto, meu?’ Fui equipado normalmente, fato de treino e chuteiras. Fiquei congelado [risos]. A partir daí nunca mais larguei as meias e a roupa interior de lã”, conta ao jornal português Expresso.
Na Alemanha está Diogo Calado que tem habituado os leitores do Mata-Mata com as suas crónicas semanais sobre futebol europeu. Chegou em janeiro de 2015 ao segundo time do Energie Cottbus com o campeonato já em andamento onde encontrou o carioca Vragel da Silva, antigo jogador do clube e na Alemanha desde 2000. É o único treinador português a trabalhar no país que é atualmente campeão do mundo.
Com o avizinhar de uma nova época aqui na Europa estes números estão sempre em mudança. O mais recente grupo de treinadores portugueses emigrantes é liderado por Marco Silva, recentemente apontado treinador do Olympiakos da Grécia. Por isso manter a infografia apresentada atualizada é uma tarefa ingrata.
13/07/2015
O Mata-Mata revela esta semana o desempenho das três equipas premiadas pela UEFA com um bilhete para a Liga Europa de 2015/2016 por causa do “Fair Play”. Texto de Diogo Calado.
Depois de há duas semanas termos feito aqui no Mata-Mata o lançamento das partidas europeias das três equipas mais disciplinadas na última temporada vamos saber como se portaram UCD, West Ham e Go Ahead Eagles.
UCD x F91 Dudelange (Luxemburgo)
Os irlandeses sofreram bastante para levar de vencida o time luxemburguês mas no final carimbaram o passaporte para mais uma ronda onde defrontarão o Slovan de Bratislava (Eslováquia). Na primeira mão em Dublin o The UCD Bowl não encheu mas registou uma agradável moldura humana de 1075 espetadores que viram os estudantes vencerem por 1 a 0. Na segunda mão, no Luxemburgo, a UCD chegou à vantagem na primeira parte e parecia ter uma tarde tranquila pela frente mas uma expulsão veio complicar tudo. O F91 Dudelange deu a volta para 2 a 1 e a UCD só se apurou por ter marcado um golo no terreno do adversário. Uma chapada de luva branca para a opinião publicada irlandesa que afiançava que a participação da UCD na prova iria envergonhar o futebol irlandês!
West Ham x FC Lusitanos (Andorra)
O West Ham da Primeira Liga inglesa, como seria de esperar, não teve problemas em eliminar o FC Lusitanos de Andorra. A surpresa está nos números que, por certo, terão ido ao desencontro das expetativas de muitos apostadores. Em Londres, perante quase 35000 espetadores, o West Ham venceu por 3 a 0 tendo a equipa mais portuguesa de Andorra resistido até ao minuto 40. Na segunda mão o pequeno Estadi Comunal de Andorra-la-Vella viu uma vitória magra do West Ham por 1 a 0 e viu o clube inglês jogar quase toda a partida com menos um jogador após a expulsão de Diafra Sakho aos 15 minutos. O “Fair Play” ficou em casa? No total 4 a 0 para o West Ham, longe das goleadas que muitos prognosticavam.
Go Ahead Eagles x Ferencvárosi TC (Hungria)
Os holandeses do Go Ahead Eagles acabaram por ser a única das três equipas a sair fora da prova logo nesta ronda inicial de apuramento para a fase de grupos. Depois de uma igualdade a um golo nos Países Baixos, no jogo da segunda mão os húngaros puxaram dos galões e golearam por 4 a 1 em Budapeste terminando a aventura europeia do Go Ahead Eagles precocemente. Durante toda a eliminatória o Go Ahead Eagles nunca esteve em posição de vantagem, confirmando-se no terreno de jogo o favoritismo atribuído “a priori” ao Ferencvárosi TC.
06/07/2015 
Depois do Mata-Mata ter dado a conhecer há umas semanas os 53 campeões nacionais na Europa esta semana eis a mesma lista mas na versão feminina. Se na vertente masculina das 54 federações nacionais que compõem a UEFA apenas uma, a do Liechtenstein, não tem campeonato masculino no futebol feminino essa lista é mais extensa. Andorra, Arménia, Azerbaijão, Liechtenstein e São Marino não têm campeonato de futebol feminino. Gibraltar organiza uma prova de futebol feminino mas com apenas nove jogadoras de cada lado. Bélgica e Paises Baixos organizam desde a época de 2012/2013 um campeonato em conjunto que, no entanto, não terá continuidade na próxima temporada de 2015/2016. Vejamos então quem foram as 47 equipas vencedoras aqui na Europa nos últimos tempos. Texto de Diogo Calado.
Albânia: KF Vllaznia Shkodër
Alemanha: FC Bayern de Munique
Andorra: não tem campeonato
Arménia: não tem campeonato
Áustria: FSK St. Pölten-Spratzern
Azerbaijão: não tem campeonato
Bélgica/Países Baixos (campeonato em conjunto): Standard de Liège
Bielorrússia: ZFC Minsk
Bósnia-Herzegovina: SFK 2000 de Sarajevo
Bulgária: FC NSA de Sófia
Cazaquistão: FC BIIK-Kazygurt
Chipre: Apollon Limassol
Croácia: ŽNK Osijek
Dinamarca: Brøndby IF
Escócia: Glasgow City FC
Eslováquia: FC Union Nové Zámky
Eslovénia: ŽNK Pomurje
Espanha: FC Barcelona
Estónia: Pärnu JK
Finlândia: PK-35 Vantaa
França: Olympique Lyonnais
Geórgia: Iberia Star de Tbilisi
Gibraltar: não tem campeonato de futebol de 11 (campeãs em futebol de 9: Lions Gibraltar FC)
Grécia: FC PAOK de Salonica
Hungria: MTK Hungária FC de Budapeste
Ilhas Faróe: KÍ
Inglaterra: Liverpool Ladies FC
Irlanda do Norte: Glentoran Belfast United
Irlanda: Wexford Youths Women’s AFC
Islândia: Stjarnan
Israel: ASA Tel-Aviv University FC
Itália: ASD CF Bardolino Verona
Letónia: Rīgas FS
Liechtenstein: não tem campeonato
Lituânia: Gintra Universitetas
Luxemburgo: FC Jeunesse Jonglënster
Macedónia: ŽFK Dragon 2014
Malta: Hibernians FC
Moldávia: FC Noroc Nimoreni
Montenegro: ŽFK Ekonomist
Noruega: LSK Kvinner FK
País de Gales: Cardiff Metropolitan Ladies FC
Polônia: KKPK Medyk Konin
Portugal: Clube Futebol Benfica
República Tcheca: SK Slavia de Praga
Roménia: Olimpia Cluj Napoca
Rússia: WFC Zvezda 2005
São Marino: não tem campeonato
Sérvia: ŽFK Spartak
Suécia: FC Rosengård
Suíca: FC Zürich Frauen
Turquia: Konak Belediyespor
Ucrânia: WFC Kharkiv
25/06/2015
Acompanhar todos os jogos das rodadas classificatórias da Liga dos Campeões e da Liga Europa é tarefa impossível. Só na primeira ronda de qualificação da Liga Europa vão a jogo um total de 102 equipas. Mas tem três jogos especiais só possíveis por causa do tão falado “Fair Play”. Vamos saber um pouco mais! Texto e fotografia de Diogo Calado.
Nesta época de 2015/2016 a UEFA irá providenciar pela última vez lugares extra na Liga Europa para as três equipas mais disciplinadas nos diversos campeonatos europeus da época anterior. Estas vagas extras oferecidas desde 1995 darão lugar a um prémio monetário a partir da época de 2016/2017. Este ano os galardoados com estes três lugares têm histórias distintas mas os seus jogos de qualificação terão, por certo, 90 minutos diferentes de todos os outros que se disputarão nas competições europeias ao longo da temporada.
University College Dublin Association Football Club (Irlanda; fundada em 1895; conhecida como UCD)
Jogo: UCD x F91 Dudelange (Luxemburgo)
A UCD é o clube desportivo da maior universidade da República da Irlanda. Os seus jogadores combinam a prática desportiva com os estudos para obtenção de um grau académico. O clube de futebol ascendeu pela primeira vez ao principal escalão irlandês em 1979. Na temporada de 2014 foi a equipa mais disciplinada do primeiro escalão irlandês mas perdeu na luta pela manutenção e acabou relegada para o segundo escalão. Não sendo inédito nem sequer único esta temporada como iremos ver mais à frente, não deixa de ser curioso que uma equipa de segundo escalão dispute provas europeias. Irá estrear-se na Liga Europa defrontando o F91 Dudelange do Luxemburgo. O jogo da primeira mão, a 2 de Julho, será em casa e será a primeira vez que o The UCD Bowl (na fotografia em baixo) receberá um jogo europeu. Os Estudantes são conhecidos por arrastarem poucos adeptos mas é provável que o recorde de 1986 espectadores fixado em outubro de 2010 seja ultrapassado.
West Ham United Football Club (Inglaterra; fundado em 1895; conhecido como West Ham)
Jogo: West Ham x FC Lusitanos (Andorra)
O famoso West Ham da poderosa Primeira Liga inglesa também ganhou um bilhete para as competições europeias mesmo tendo terminado no meio da tabela. O “Fair Play” assim o permitiu. Com um longo historial interno e a nível internacional (venceu a já extinta Taça dos Vencedores das Taças em 1965 por exemplo) terá como adversário o frágil FC Lusitanos de Andorra. É, à partida, o jogo mais desequilibrado da primeira rodada com a equipa inglesa a defrontar um clube fundado em 1999 por emigrantes portugueses em Andorra. Será a quinta presença dos FC Lusitanos nas competições europeias. Nos anos transactos a equipa mais portuguesa de Andorra foi eliminada por equipas da Macedónia, Croácia, Malta e Ilhas Faroé. Se sobreviver à eliminatória com o West Ham será um dos maiores feitos da história do futebol!
Go Ahead Eagles (Países Baixos; fundado em 1902)
Jogo: Go Ahead Eagles x Ferencvárosi TC (Hungria)
Tal como a UCD o Go Ahead Eagles foi a equipa mais disciplinada do seu campeonato mas acabou descendo de divisão! A equipa holandesa, agora no segundo escalão, irá defrontar o histórico Ferencvárosi TC da Hungria num encontro que, não se prevendo tão desequilibrado quanto o do West Ham com os FC Lusitanos, deverá pender para o lado dos húngaros. Será o regresso do Go Ahead Eagles às competições europeias depois de mais de 30 anos de ausência.
Seja qual forem os resultados nesta primeira rodada durante 90 minutos os sonhos dos grandes da Europa são também os sonhos das dezenas de representantes dos 54 países e territórios que integram a UEFA.
19/06/2015
Eisenhüttenstadt – capítulo III
Quando estiver a ler estas linhas já as camisolas brancas e pretas do Eisenhüttenstädter FC Stahl terão feito a sua última aparição. No início da época de 2015/2016 a fusão deste clube com outros três irá dar origem ao FC Eisenhüttenstadt. Vida e morte cruzam-se neste terceiro e último artigo exclusivo para o Mata-Mata sobre a peculiar cidade alemã de Eisenhüttenstadt. Texto e fotografia de Diogo Calado.
“Stahl” é a palavra alemã para aço e o EFC Stahl era o clube dos trabalhadores da indústria metalúrgica, a mesma que esteve na origem da construção da cidade na década de 1950. Eisenhüttenstadt quando foi construída era para ser uma cidade socialista modelo, a primeira de muitas a serem construídas na República Democrática Alemã (RDA). Começou por se chamar Stalinstadt e no final da década já era local de residência de mais de 20000 pessoas, a maior parte das quais empregadas na siderurgia local. O clube deles era, obviamente, o BSG Stahl Stalinstadt e quando a cidade mudou de nome em 1961 no processo de “desestalinização” o BSG Stahl Stalinstadt tornou-se no BSG Stahl Eisenhüttenstadt.
Foi com este nome que o clube atingiu os principais sucessos. Não que tenham sido muitos mas permitiram colocar o nome da cidade no mapa do futebol da RDA! Jogando desde os tempos em que era Stahl Stalinstadt no Stadion der Hüttenwerker (algo como Estádio dos Trabalhadores Siderúrgicos) o Stahl Eisenhüttenstadt passou grande parte das décadas de 60, 70 e 80 do século XX no segundo escalão da RDA. Nas épocas de 1969/1970 e de 1989/1990 o Stahl Eisenhüttenstadt esteve na Oberliga, a prova maior do futebol da RDA.
Quando o Muro de Berlim caiu era um clube de primeira, o que lhe não valeu de muito pois em meados de 1991 quando se deu a reunificação no futebol as equipas da antiga RDA apenas tiveram direito a dois lugares na Bundesliga! O Stahl Eisenhüttenstadt que entretanto, em 19 de maio de 1990, se tornara no EFC Stahl caiu no terceiro escalão alemão. Ainda assim, teve direito a participar na primeira edição da Supertaça da Alemanha pós-reunificação na qualidade de finalista vencido da taça disputada pelos clubes da antiga RDA ao longo da época de 1990/1991. Essa mesma condição valeu um bilhete para a participação na já extinta Taça dos Vencedores das Taças da época seguinte. Na primeira mão da primeira eliminatória o Galatasaray SK visitou o Stadion der Hüttenwerker e venceu por 2 a 1 confirmando-se a eliminação do EFC Stahl no jogo da segunda mão em Istambul com uma vitória dos turcos por 3 a 0.
Desde o início da década de 1990 até ao fim da época de 2014/2015 a história do EFC Stahl ficou marcada pela queda do clube nos escalões inferiores alemães e por problemas financeiros. A página final do EFC Stahl escreveu-se na tarde de 13 de junho de 2015 em jogo a contar para a última jornada da Brandenburgliga, prova no sexto patamar da pirâmide do futebol alemão.
Os 10000 lugares do Sportanlagen Waldstraße, novo nome dado entretanto ao histórico Stadion der Hüttenwerker, chegam e sobram para as poucas centenas de adeptos que vieram ver o jogo que opôs o EFC Stahl ao SV Victoria Seelow. Número oficial: 250 espetadores! Mais do que é habitual nos últimos tempos por aqui em Waldstraβe, contudo, o número a mais de espectadores hoje deve-se sobretudo à presença de algumas dezenas de adeptos visitantes ainda esperançados numa hipotética subida de divisão da sua equipa que depende de resultados terceiros.
Apesar da existência de um setor reservado para os adeptos visitantes atrás de uma das balizas quase todos os adeptos do SV Victoria Seelow instalam-se na principal bancada do estádio. Esta é um pequeno forno em dias de calor como este e as cadeiras de plástico além de queimadas pelo sol há muito que não sabem o que é uma limpeza mas o EFC Stahl contorna esse problema disponibilizando aos adeptos umas espécies de almofadas com o emblema do clube estampado. Na velha cabine de som o animador de serviço esforça-se por anunciar os alinhamentos das equipas, os golos e as substituições. Tarefa ingrata tendo em conta que o equipamento de som há muito que pede a reforma! No topo oeste um velho placar electrónico já entrou na reforma. Apesar de tudo, o relógio de ponteiros que complementa a estrutura ainda funciona e está acertado! Em frente à tribuna estende-se uma bancada com 2600 cadeiras de plástico. É o local escolhido por umas três dezenas de adeptos para verem o jogo. Apesar da exposição ao sol sempre é melhor do que a abafada tribuna. As cadeiras não estão aparufasadas à estrutura que as sustenta e com demasiada facilidade saem do sítio mas aqui os adeptos são serenos e o risco de cadeiras andarem a voar pelo ar é quase nulo, pelo menos por hoje!
No relvado os visitantes motivados pela possibilidade de subirem de divisão pressionam um EFC Stahl que já tem um lugar assegurado no meio da tabela. O calor leva os responsáveis da equipa da casa a colocarem quatro baldes de água junto às linhas laterais. Servem para os jogadores molharem a cara. O SV Victoria Seelow vence por 3 a 0 e as notícias vindas de outros campos dão conta que a equipa termina em lugar de subida de divisão. Aliás, por pouco que não ficava no primeiro lugar da Brandenburgliga. Após o apito final e confirmada a ascensão ao quinto escalão há champanhe e camisolas alusivas ao feito à espera dos jogadores.
Vida e morte cruzam-se em Waldstraβe. Dum lado os jogadores do SV Victoria Seelow acabam de escrever uma das mais brilhantes páginas da história do clube, do outro é o fim de um clube que pertence mais a um país que já não existe, a RDA, do que propriamente à Alemanha. Uma RDA que teima em sobreviver em locais como Eisenhüttenstadt. Há uma Europa a duas velocidades mas, também, uma Alemanha a duas velocidades! Eisenhüttenstadt, a cidade modelo sonhada pelo socialismo, é hoje uma cidade parada no tempo, tão perto mas, ao mesmo tempo, tão longe de Berlim e acima de tudo esquecida pela Alemanha onde há dinheiro, muito dinheiro. O EFC Stahl fez a sua parte. Pôs a cidade no mapa do futebol nacional e até mesmo europeu. Esgotado e cansado pelas partidas que a reunificação lhe pregou vê agora chegar o seu fim. Que o FC Eisenhüttenstadt seja mais feliz!
12/06/2015 
Galera do Mata-Mata esta semana aqui pela Europa damos uma olhada pelos 53 clubes que se sagraram campeões nacionais ao longo de 2014/2015. A UEFA tem 54 membros mas um, o Liechtenstein, não tem campeonato de futebol. Os clubes do Liechtenstein jogam nos campeonatos da Suíça sendo o pequeno principado o único membro da UEFA que não envia representante à Liga dos Campeões. Vamos então saber quem festejou nos últimos tempos aqui na Europa.
Albânia: KF Skënderbeu Korçë
Alemanha: FC Bayern de Munique
Andorra: FC Santa Coloma
Arménia: FC Pyunik
Áustria: FC Red Bull Salzburgo
Azerbaijão: Qarabağ FK
Bélgica: KAA Gent
Bielorrússia: FC BATE Borisov
Bósnia-Herzegovina: FK Sarajevo
Bulgária: PFC Ludogorets Razgrad
Cazaquistão: FC Astana
Chipre: APOEL FC
Croácia: GNK Dinamo de Zagreb
Dinamarca: FC Midtjylland
Escócia: Celtic FC
Eslováquia: AS Trenčín
Eslovénia: NK Maribor
Espanha: FC Barcelona
Estónia: FC Levadia Tallinn
Finlândia: HJK de Helsínquia
França: Paris Saint-Germain FC
Geórgia: FC Dila Gori
Gibraltar: Lincoln Red Imps FC
Grécia: Olympiacos FC
Hungria: Videoton FC
Ilhas Faroé: B36 Tórshavn
Inglaterra: Chelsea FC
Irlanda do Norte: Crusaders FC
Irlanda: Dundalk FC
Islândia: Stjarnan
Israel: Maccabi de Telavive FC
Itália: Juventus FC
Letónia: FK Ventspils
Liechtenstein: não tem campeonato
Lituânia: FK Žalgiris
Luxemburgo: CS Fola Esch
Macedónia: FK Vardar
Malta: Hibernians FC
Moldávia: FC Milsami Orhei
Montenegro: FK Rudar Pljevlja
Noruega: Molde FC
País de Gales: The New Saints FC
Países Baixos: PSV Eindhoven
Polônia: KKS Lech Poznań
Portugal: SL Benfica
República Tcheca: FC Viktoria Plzeň
Roménia: FC Steaua de Bucareste
Rússia: FC Zenit
São Marino: SS Folgore
Sérvia: FK Partizan
Suécia: Malmö FF
Suíça: FC Basileia
Turquia: Galatasaray SK
Ucrânia: FC Dynamo de Kiev
05/06/2015
Berlim será a capital do futebol europeu neste fim de semana. No dia 6 de junho todos os olhares estarão centrados na capital da Alemanha onde FC Barcelona de Espanha e Juventus FC de Itália lutarão pela conquista da Liga dos Campeões da UEFA sob a batuta do árbitro turco Cüneyt Çakır. O Mata-Mata revela todos os pormenores sob o local do jogo, o majestoso Estádio Olímpico de Berlim, num artigo exclusivo. Texto e fotografia de Diogo Calado.
Desde 1909 que o local onde hoje está o Estádio Olímpico de Berlim serve para a prática desportiva. A primeira infraestrutura desportiva que aqui esteve foi uma pista para corridas de cavalos com 40000 lugares e que abriu ao público em 23 de maio de 1909.
Em 1912 Berlim foi selecionada como a cidade organizadora dos Jogos Olímpicos de Verão de 1916 e de imediato começou a angariação de fundos para construir um novo estádio, o Deutsches Stadion. Em agosto de 1912 junto da pista para corridas de cavalos começou a construção do Deutsches Stadion também conhecido como Grunewaldstadion. Inaugurado menos de um ano depois, em 15 de maio de 1913, o estádio tinha 30000 lugares dos quais 11500 eram sentados. Contudo, a I Guerra Mundial impediu a realização dos Jogos Olímpicos e o Deutsches Stadion nunca serviu para o propósito para o qual havia sido construído.
No final da década de 1920 em Berlim voltou a emergir a ideia de receber uns Jogos Olímpicos de Verão começando-se a projetar a remodelação do estádio numa arena capaz de acolher 65000 espetadores. A Grande Depressão esmagou esse sonho!
Contudo, em 1931 Berlim foi escolhida para acolher os Jogos Olímpicos de Verão de 1936 e os planos para remodelar o estádio ganharam uma nova força. Com o regime Nazi no poder a partir de 1933 os Jogos Olímpicos foram encarados como uma forma de propaganda e de imediato foram disponibilizados 6 milhões de marcos para construir um estádio com cerca de cem mil lugares digno de receber tão importante evento.
Em março de 1934 começou a demolição tanto da pista para corridas de cavalos como do antigo Deutsches Stadion e nessa enorme área de terreno começou-se a erguer o Estádio Olímpico de Berlim (Olympiastadion em alemão). Entre 1 e 16 de agosto de 1936 pelo novo estádio passaram 3956 atletas representando 49 delegações, entre os quais o famoso Jesse Owens que arrecadou quatro medalhas de ouro.
Durante a II Guerra Mundial o estádio teve o seu papel no entretenimento das tropas germânicas com a realização de provas e eventos destinados aos soldados. No final da guerra o recinto tinha sofrido as consequências da devastação da cidade de Berlim, o que não impediu que os britânicos, responsáveis pelo setor de Berlim onde estava o estádio, reabrissem-no em setembro de 1946 para aí realizarem uma competição destinada a soldados dos Aliados.
Antes do Mundial de 1974 as duas bancadas centrais foram parcialmente cobertas ficando com cerca de 26000 lugares protegidos do mau tempo. Entre 2000 e 2004 o Estádio Olímpico de Berlim foi renovado. O anel superior foi deixado quase intacto mas o anel inferior teve de ser completamente reconstruído. Foi colocada uma nova cobertura que apenas não cobre a Porta da Maratona por imperativos de preservação patrimonial. A cobertura é sustentada por vinte colunas colocadas no anel superior e foi galardoada com um dos mais antigos prémios de arquitetura existentes na Alemanha.
No verão de 2004 o Olympiastadion ficou pronto para novos voos embora as obras tenham durado até 2006 tendo em vista o Mundial desse ano cuja final se disputou no Estádio Olímpico de Berlim coroando a Itália como campeã do mundo (setenta anos depois da vitória italiana na final do Torneio Olímpico de Futebol de 1936).
Para além dos já citados Jogos Olímpicos de 1936 e de seis jogos do Mundial de 2006, entre os quais a final, este estádio também acolheu três jogos do Mundial de 1974 e desde a reunificação, em 1991, que recebe as finais da Taça da Alemanha. Antes da queda do Muro de Berlim o estádio ficava em Berlim Ocidental e recebia desde 1985 as finais da Taça da República Federal da Alemanha. A final da Liga dos Campeões no dia 6 de junho de 2015 será mais um capítulo de uma longa história.
29/05/2015
Há cerca de um ano atrás o imenso Brasil puxava dos galões com os seus novos estádios prontos para receber a Copa do Mundo. Aqui na Europa o Mata-Mata esta semana visita um estádio bem diferente do habitual. Um estádio com bancadas apenas atrás das balizas! Texto e fotografia de Diogo Calado.
Incaraterístico, diferente e invulgar! Com estes três adjetivos podemos descrever na perfeição o Stadion WRKS Olimpia Warszawa. Este recinto localizado no oeste da cidade de Varsóvia, a capital da Polônia, distingue-se por ter apenas duas bancadas localizadas por trás de cada uma das balizas! Assim sendo, os espetadores tem duas opções: ou assistem ao jogo confortavelmente sentados atrás de uma baliza ou de pé ao nível do terreno de jogo ou quase com uma visão mais central do mesmo.
No Stadion WRKS Olimpia Warszawa, mais conhecido como Stadion Olimpii, joga o Wolski Robotniczy Klub Sportowy Olimpia Warszawa ou Olímpia de Varsóvia para os lusófonos. Este clube fundado em 1952 passou os primeiros anos de vida numa outra zona da cidade até se transferir, em 1975, para Wola na parte oeste da capital polaca. Aí construiu o seu recinto de jogo que, algures na década de 1990, foi melhorado com a construção das já referidas duas bancadas atrás das balizas. Cada uma delas pode albergar uns 840 espetadores o que eleva para mais de 1600 os lugares sentados disponíveis no Stadion Olimpii. A estes o clube junta, generosamente, mais uns 2400 lugares em pé ao longo das duas linhas laterais, sendo que ao lado da linha lateral a sudoeste uma ligeira colina ajuda a tornar este número de lugares mais plausível.
No final da época de 2014/2015 com o Olímpia de Varsóvia abaixo do meio da tabela no quinto patamar do futebol polaco pode questionar-se o porquê da tamanha dimensão das bancadas e o porquê de querer ter à força 4000 lugares como lotação oficial do Stadion Olimpii. Contudo, quando na década de 1990 este recinto tomou a forma que hoje se lhe conhece eram grandes os sonhos do Olímpia de Varsóvia. Na época de 1996/1997 o clube esteve à beira de subir ao segundo escalão polaco e havia a expetativa de que o Olímpia de Varsóvia poderia, mais cedo ou mais tarde, inscrever o seu nome por entre os mais bem sucedidos clubes desportivos da cidade.
Perdidas as ilusões resta ao clube um campo no mínimo curioso e um punhado de adeptos fiéis que vai sonhando a cada fim de semana com voos mais altos para o seu Olímpia de Varsóvia.
22/05/2015
O Mata-Mata antevê o futuro próximo do futebol alemão. Sem bruxedo ou adivinhação confere com os próprios olhos os esforços que o RB Leipzig está fazendo para chegar junto dos grandes da Alemanha. Texto e fotografia de Diogo Calado.
Foi em Leipzig que começou a queda do Muro de Berlim. As manifestações pacíficas iniciadas em setembro de 1989 nesta cidade aumentaram a pressão sob um regime caduco e despertaram consciências um pouco por toda a República Democrática Alemã (RDA). Quando em 9 de novembro de 1989, uma quinta-feira, as fronteiras entre Berlim Ocidental e Berlim Leste se abriram Leipzig não estava na rua – as manifestações eram às segundas-feiras – mas por certo rejubilou com tão histórico momento.
Leipzig não é só motivo de destaque nos livros de História da Alemanha. O passado do futebol alemão também conta com importantes contributos de clubes desta cidade, logo a começar no VfB Leipzig campeão nas épocas de 1902/1903, 1905/1906 e 1912/1913. Já nos tempos da RDA o título de campeão deste país ficou em Leipzig, nas mãos do BSG Chemie Leipzig, no final das épocas de 1950/1951 e de 1963/1964. O 1. FC Lokomotive Leipzig, sucessor do VfB Leipzig, trouxe para a cidade a Taça da RDA em 1976, 1981, 1986 e 1987. Marcou também presença na final da Taça dos Vencedores das Taças de 1987 ganha pelo AFC Ajax de Amesterdão.
Contudo, passado é passado e o presente do futebol em Leipzig escreve-se essencialmente por causa do polémico RasenBallsport Leipzig. Este clube fundado em 2009 e que esconde no seu nome uma publicidade velada a uma bebida energética tornou-se rapidamente no mais forte da cidade às custas de um clube mais pequeno a quem comprou os direitos de participação no quinto escalão alemão. Rapidamente o RB Leipzig subiu escalões na pirâmide do futebol alemão e vai entrar na época de 2015/2016 com o assumido desejo de subir à Bundesliga, a categoria maior na Alemanha.
Na tarde de 17 de maio de 2015 é a equipa secundária do RB Leipzig que traz o Mata-Mata ao pequeno Stadion am Bad em Markranstädt nos arredores de Leipzig. A partida frente à segunda equipa do FC Energie Cottbus conta para a zona sul da Oberliga Nordost no quinto patamar da pirâmide do futebol alemão. Nas bancadas pouco mais de 100 espetadores estão longe de encher os cerca de 5500 lugares disponíveis. O RB Leipzig não brinca em serviço e mesmo num jogo da equipa secundária a contar para o quinto escalão há um responsável devidamente aperaltado à porta com uma lista de convidados na mão. Na zona VIP o ambiente assemelha-se ao dos jogos das ligas profissionais alemãs, com serviço de catering e com o sorriso e atenção permanente de jovens senhoras também elas aperaltadas para receber as individualidades que acorrem ao jogo.
O RB Leipzig II acaba por fazer jus ao lugar de topo que ocupa na tabela e vence por 5 a 1 o FC Energie Cottbus II. A cada golo o indivíduo de serviço no microfone induz o público a gritar o resultado. Consegue arrancar a participação de uma meia dúzia de vozes. Aqui todos os momentos são bons para mimetizar o que se faz na Bundesliga. Afinal é lá que este clube quer chegar!
Vir a este estádio ver este jogo foi uma longa viagem pelo passado e presente do futebol da cidade de Leipzig. Mas também permite antever o futuro em que haverá, mais cedo ou mais tarde, um novo clube por entre os grandes do futebol alemão. O nome a reter é RB Leipzig!
14/05/2015
08/05/2015
Londonderry (nome oficial) ou Derry (nome mais comum) tem séculos de história. Os primeiros registos de povoamento do local onde hoje se situa a segunda maior cidade da Irlanda do Norte remontam ao século VI depois de Cristo. Contudo, a cidade é especialmente conhecida pelos numerosos e trágicos eventos que nela ocorreram entre o final dos anos 60 e o início dos 90 do século XX. Na cidade do “Bloody Sunday” nem o futebol e o The Brandywell Stadium escaparam às tensões entres nacionalistas e unionistas! Texto e fotografia de Diogo Calado.
Situado entre Creggan e Bogside, dois bairros marcadamente habitados por membros da comunidade nacionalista da Irlanda do Norte, o The Brandywell Stadium é propriedade do município local e é utilizado para partidas de futebol e corridas de galgos. No que ao futebol diz respeito é o Derry City Football Club que faz do The Brandywell a sua casa e, dado o contexto histórico envolvente, não é de admirar que este clube tenha um estatuto especial no mundo do futebol participando nas competições da vizinha Irlanda em detrimento das provas do futebol norte-irlandês.Foi a fundação do Derry City em 1928 que levou à construção de um estádio de futebol digno desse nome em Londonderry. Mais de 35 anos depois, no final da época de 1964/1965, o Derry City sagrou-se campeão da Irlanda do Norte pela primeira e única vez na sua história. Contudo, este triunfo foi um inocente ponto de partida para o esfriar de relações entre o Derry City e a Irish Football Association (IFA), a federação de futebol da Irlanda do Norte.
Na época seguinte coube ao Derry City representar a Irlanda do Norte na Taça dos Campeões Europeus (a atual Liga dos Campeões). Após perder por 5 a 3 na Noruega perante o FK Lyn o Derry City recebeu o jogo da volta num chuvoso dia de setembro que deixou o relvado do The Brandywell impraticável, o que não impediu uma goleada de 5 a 1 da equipa norte-irlandesa que assim se apurou para a ronda seguinte, algo inédito nas participações de clubes da Irlanda do Norte em provas europeias até então. Nessa noite o mais pessimista dos adeptos do Derry City estaria longe de imaginar que os jogos europeus não voltariam à cidade naquela época!
A IFA antes da eliminatória seguinte, que colocou o RSC Anderlecht no caminho dos Candystripes, retirou o The Brandywell da lista de estádios utilizáveis na Irlanda do Norte para jogos europeus justificando-se com o estado do relvado. Num período em que o sectarismo se acentuava na Irlanda do Norte, depressa se criou a convicção em Londonderry que a decisão era motivada por questões religiosas (o Derry City jogava numa área de influência nacionalista e era apoiada por Católicos, enquanto a IFA representava os interesses dos Protestantes).
O "braço de ferro" prolongou-se com a IFA a exigir que os seus representantes nas provas europeias jogassem em Belfast o que foi terminantemente recusado pelo Derry City. Após a primeira mão na Bélgica, que não deixou margem para dúvidas (9 a 0 para o RSC Anderlecht), nem os belgas, nem a UEFA se opuseram a que fosse o The Brandywell a receber o jogo da segunda mão. A última palavra coube à IFA e o jogo nunca se chegou a disputar. A partir de então as relações entre Derry City e IFA nunca mais foram as mesmas.
Nos anos seguintes a situação política na Irlanda do Norte deteriorou-se e a zona envolvente ao The Brandywell presenciou alguns dos incidentes mais violentos dos “The Troubles”. As rivalidades entre unionistas e nacionalistas também se fizeram sentir no futebol e com o The Brandywell localizado numa área firmemente republicana da Londonderry nacionalista e sendo o Derry City um clube apoiado pela comunidade Católica e nacionalista estavam criadas as condições para um degenerar de violência sempre que o Derry City recebesse equipas apoiadas por Protestantes e unionistas.
Em 25 de janeiro de 1969 na recepção ao Linfield FC, que cumpria as condições atrás descritas, os adeptos da equipa de Belfast foram evacuados do The Brandywell ao intervalo após cenas de violência no interior do recinto. O clube de Belfast declarou que não voltaria a deslocar-se a Londonderry por razões de segurança e nas duas épocas seguintes o Derry City recebeu o Linfield FC na casa do próprio, em Windsor Park, situada numa área Protestante de Belfast! A escalada dos episódios de violência levou inúmeros clubes a mostrarem-se relutantes em deslocarem-se ao The Brandywell. Em setembro de 1971 o autocarro do Ballymena United FC foi incendiado à porta do The Brandywell antes de um jogo para o campeonato o que representou a gota de água para a IFA. Esta considerou não existirem condições para o The Brandywell continuar a receber partidas de futebol.
O Derry City passou a jogar como visitado em Coleraine, cidade maioritariamente unionista localizada a cerca de 48 quilómetros de Londonderry. A distância levou a uma diminuição considerável das receitas de bilheteira e perto do fim do ano de 1972 o Derry City extinguiu o futebol profissional. O clube sobreviveu até 1985 jogando nas ligas amadoras, ano em que, apesar de ser um clube norte-irlandês, requereu a entrada na Liga da Irlanda. A IFA ainda tentou impedir esta mudança mas, após conversações com a congénere da Irlanda e uma série de jogos amigáveis do Derry City com equipas da Irlanda em Londonderry em que não se verificaram incidentes, o órgão máximo do futebol na Irlanda do Norte anunciou que não se oporia a esta mudança.
No início da época de 1985/1986 o Derry City foi enquadrado na segunda divisão da Irlanda, disputando os seus jogos em casa no The Brandywell. O Derry City depressa se impôs no futebol da Irlanda e nos primeiros vinte anos de participação conquistou doze troféus entre os quais o de campeão da Irlanda na época de 1988/1989, naquele que era o seu segundo ano no principal escalão. Tal como a paz regressou à cidade entretanto, também os jogos europeus voltaram ao The Brandywell. SL Benfica, IFK Göteborg e Paris Saint-Germain FC, por exemplo, passaram por aqui desde que o Derry City passou a jogar nas competições irlandesas.
The Brandywell Stadium tem capacidade para receber mais de 4000 espectadores entre lugares sentados e em pé. No entanto em jogos domésticos a lotação máxima está fixada nos 3502 e em jogos europeus, por imposição da UEFA, essa lotação reduz-se até aos 2251. Noutros tempos os mais fervorosos e barulhentos adeptos do Derry City ficavam numa bancada com lugares em pé conhecida como Jungle (em português Selva). Na atualidade ocupam um espaço na mais confortável e moderna bancada principal do estádio, contudo, seja onde for far-se-ão sempre ouvir em defesa do seu Derry City e da sua causa por uma Irlanda unida e republicana.
30/04/2015
O Mata-Mata continua pela Alemanha. Esta coluna chama-se “Pela Europa” mas enquanto o país campeão do mundo em 2014 nos continuar a surpreender a cada semana com novas histórias do futebol local por aqui iremos permanecer. Texto e fotografia de Diogo Calado desta vez em Hamburgo.
Procurar bilhetes no próprio dia para um jogo do Hamburger Sport-Verein, ou Hamburgo como é mais conhecido por entre os adeptos que falam português, é pouco aconselhável. Nem uma época pouco conseguida na Bundesliga (a principal liga da Alemanha) afasta os adeptos do estádio que nesta época de 2014/2015 se chama Imtech Arena. Por entre os mais puristas será sempre o Volksparkstadion, o imortal nome do estádio original que no final do século XX deu lugar ao atual cujo nome tem sido sucessivamente vendido em acordos publicitários.
Com a Imtech Arena pronta, neste 25 de abril de 2015, para o jogo frente ao FC Augsburg deveras importante para tentar evitar que o Hamburgo caía para o segundo escalão alemão pela primeira vez na sua história partamos para outra zona da cidade onde também se escreve um pouco da história do clube azul, branco e preto.
A norte do centro da cidade na esquina da Rothenbaumchaussee com a Turmweg a agitação é grande. Aqui é dia de feira e apesar da chuva miudinha que insiste em cair é difícil circular por entre as bancas onde se vende de tudo um pouco. Os edifícios modernos oferecem pouco abrigo a quem não trouxe guarda chuva, ao contrário do Sportplatz am Rothenbaum que aqui esteve até 1994 e que tinha duas bancadas centrais cobertas. Este foi o campo do Hamburgo entre 1919 e 1963. Antes disso era desde 1910 o campo de um dos três clubes que em junho de 1919 se fundiram para dar origem ao Hamburgo.
Durante os anos de permanência do Hamburgo por estas bandas o Sportplatz am Rothenbaum foi ampliado e modernizado chegando a ter na década de 1920 cerca de 30000 lugares e bancadas em redor de todo o recinto de jogo. Na década seguinte construíram-se os lugares cobertos, 1500 dos quais sentados e 9500 em pé. Nenhum outro estádio no país oferecia semelhantes condições aos espetadores à data.
Apenas com a introdução da Bundesliga em 1963 é que o clube se viu na necessidade de se mudar para o Volksparkstadion, mais capaz de receber os jogos da nova prova nacional do futebol alemão. Apesar disso o Sportplatz am Rothenbaum manteve-se de pé e até foi renovado em meados da década de 1970. Em 1980 a bancada mais a sul foi destruída por um furacão e nunca mais foi reconstruída.
Quando a década de 1990 começou o campo era utilizado pela equipa secundária, pela equipa de sub-19 e pela equipa feminina do Hamburgo. Contudo, o estado de degradação do recinto foi avançando obrigando em 1992 ao encerramento da bancada no lado leste e de partes das restantes bancadas. Em 1994 foi demolido para dar lugar a um condomínio.
Dizer que hoje por entre aqueles prédios haverá muitas histórias para contar tendo o futebol alemão como pano de fundo é algo em que poucos acreditarão. Nada diz que ali houve um campo de futebol, nada refere que a história do Hamburgo passou por ali e nada indica que tal mudará no futuro! O local do antigo Sportplatz am Rothenbaum é hoje a morada de umas poucas centenas de pessoas e ali têm assento algumas empresas e negócios mas o futebol há muito ficou para trás mesmo que o Hamburgo ali tenha jogado durante mais de 50 anos.
27/04/2015
Bernburg
O Mata-Mata foi ver como se está a dar o Askania Bernburg na sua época de estreia no quinto escalão da Alemanha. Porque o futebol alemão não se faz só de Bayern de Munique nem de Borussia de Dortmund mais um texto e fotografia de Diogo Calado.
Bernburg (Saale) tem poucos sucessos futebolísticos para contar. Esta cidade alemã localizada na Alta Saxónia nunca se deu a conhecer pela qualidade do futebol praticado. Por outro lado, a localidade saí do anonimato a que a maioria das cidades de pequena e média dimensão estão submetidas na Alemanha por ter albergado durante alguns anos do regime Nazi um infame centro de eutanásia.
Já longe desses terríveis anos Bernburg (Saale) é hoje uma cidade carregada de comércio ávido do facilitismo com que os alemães abrem a carteira e é um dos pontos de paragem recomendados para quem gosta de arquitetura românica. Ao fim de semana as ruas estão mais vazias mas nem por isso desertas.
Na tarde de 18 de abril de 2015 o motivo desta aparente acalmia não se prende com o facto do maior clube da terra jogar em casa. Apenas 133 adeptos marcam presença na Sparkassen-Arena onde o TV Askania Bernburg defronta a equipa secundária do FC Energie Cottbus. Nem o facto de esta ser a época de estreia do Bernburg na Oberliga Nordost, prova situada no quinto patamar do futebol alemão, cativa mais espetadores. É certo que a época de estreia neste escalão tem sido difícil e o registo em casa mostra-se miserável à passagem da jornada 23 com apenas uma vitória até ao momento.
Os poucos espetadores presentes não se podem queixar de falta de conforto na Sparkassen-Arena que deve este nome a um acordo entre o Bernburg e um banco. Os melhores lugares da Sparkassen-Arena estão na pequena bancada que tem cadeiras de plástico azul na zona mais central. Por trás desta bancada ficam os balneários e por cima deles um bar. No lado oposto por trás dos bancos de suplentes e numa pequena elevação há alguns lugares sentados em bancos que poderiam estar num jardim ou num parque público.
Com mais espetadores de pé junto ao relvado e no passeio que liga a bancada ao bar do que nos lugares sentados o Bernburg dá luta e conquista um ponto que o pode ajudar a fugir da despromoção. Cada lance de perigo e cada golo têm um som próprio de festejo de quem celebra porque é o clube da terra mas de quem também não se importa muito com o resultado! A crise de identidade pode ser explicada em parte pelo fenómeno que tocou a maioria das equipas que em tempos estiveram em território da República Democrática Alemã (RDA). O Bernburg nem sempre foi Askania e talvez aos mais velhos o nome Chemie diga mais alguma coisa do que Askania. E haverá aqueles que ainda se lembram do Eintracht e do Empor, alguns dos outros nomes que o clube teve em dado momento quando atuava nos escalões inferiores da RDA.
Os mais novos só se podem lembrar do clube da terra perdido nas divisões inferiores de uma Alemanha já reunificada. Apesar da promoção recente ao quinto esta ainda não é suficiente para trazer grandes nomes a Bernburg. A consolação serve-se pela forma da receção às equipas secundárias de equipas com passado no futebol da RDA. Muito para quem sempre andou afastado dos grandes palcos, pouco para quem pode ver à mesma hora na televisão os melhores jogadores do país a jogar!
No final o empate não leva a festejos nenhuns. A Sparkassen-Arena depressa esvazia e em minutos ninguém diria que há poucos intantes ali houve uma partida de futebol. Bernburg (Saale) prosseguirá a sua vida quase ignorando o ano diferente que o principal clube da cidade está a viver. Se não se repetir depois não se queixem de que não aproveitaram!
17/04/2015
Há um Borussia em Berlim
O Mata-Mata continua na Alemanha e foi ver um dos históricos clubes da capital do país campeão do mundo de futebol. Borussia não há só em Dortmund, também há em Berlim pela mão do TeBe! Texto e fotografia de Diogo Calado.
10 de abril de 2015: o Tennis Borussia Berlin, um dia depois de completar 113 anos de existência, recebeu e venceu o 1. FC Wilmersdorf por 3 a 0 cimentando a liderança na Berlin-Liga. No Mommsenstadion o dia é de festa com a campanha de superação da marca de 500 espetadores a revelar-se bem sucedida. 583 adeptos responderam ao repto e dispuseram-se a ir a um final de tarde de sexta-feira ver um jogo do sexto escalão!
Poucos são apoiantes da equipa visitante, um pequeno clube de bairro cujo campo até nem fica muito longe do Mommsenstadion. Apesar de apenas 10 minutos de carro separarem os dois recintos só alguns jogadores dos escalões de formação do 1. FC Wilmersdorf denunciados pelos seus casacos de fato de treino vermelhos e acompanhados por alguns familiares se deslocam ao recinto do TeBe.
Os adeptos da casa, em esmagadora maioria, arrumam-se por idades: os mais novos na bancada com lugares em pé que tem a antiga torre de televisão de Berlim Ocidental por trás, os de meia idade ficam também em pé mas ao pé dos bares onde a cerveja se vende a um ritmo só justificado pela aparição dos primeiros dias de calor em Berlim e os mais velhos sentam-se na velha tribuna prjetada há mais de 80 anos.
Enquanto a noite caí sob a relva natural do Mommsenstadion os jogadores de ambas as equipas esforçam-se por tentar jogar futebol. A Alemanha pode ter ganho o Mundial de 2014 há uns meses mas tal não significa que por aqui se jogue bom futebol em todos os relvados!
Depois de uma primeira parte sem golos no segundo tempo o TeBe aperta e a meio da etapa complementar marca três golos em nove minutos que selam o resultado final. A cada golo o placar electrónico instalado em 2000 esforça-se por animar os espectadores. Consegue captar a atenção de um dos garotos encarregados de apanhar as bolas que imita a repetitiva imagem de um homem com um ar palerma a saltar!
No final do encontro os jogadores do TeBe dão a volta de honra da praxe agradecendo primeiro aos adeptos mais novos que gritaram desde o início pela sua equipa. Segue-se uma salva de palmas daqueles que se quedaram junto aos bares. Enquanto isso, os mais velhos já vão a caminho de casa. Ainda são do tempo em que o TeBe andou pela Bundesliga da República Federal da Alemanha. Para eles vencer um pequeno clube de bairro e estar em primeiro lugar de uma prova no sexto patamar do futebol de uma Alemanha agora reunificada é uma obrigação!
Este é um clube com identidade numa grande capital europeia com dificuldade em afirmar-se no beautiful game. Só por isso já merece crédito! A juntar a isto há o estádio onde reside desde 1945. O Mommsenstadion abriu em 17 de agosto de 1930 tendo então como nome SCC-Stadion em alusão ao Sport-Club Charlottenburg, clube que ainda hoje utiliza o estádio. Em 1934 o nome mudou para o actual homenageando o vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 1902 Theodor Mommsen.
O Mommsenstadion foi palco de alguns jogos do Torneio Olímpico de Futebol de 1936 entre os quais a goleada de 8 a 0 da Itália de Vittorio Pozzo sobre o Japão nos quartos de final. O caminho para a medalha de ouro também se fez pelo Mommsenstadion!
Os danos causados pela II Guerra Mundial foram reparados na década de 1950 acompanhados por algumas mudanças estruturais que deixaram o Mommsenstadion com cerca de 15000 lugares dos quais uns 1800 estão debaixo de cobertura. Contudo, por razões de segurança nos jogos de futebol a lotação está restringida a um máximo de 11500 espetadores.
Desde 1999 que os adeptos mais efusivos do TeBe se juntam no bloco E, o tal que tem por trás a irmã ocidental da mais famosa e imponente torre de Alexandraplatz. Ao seu lado esquerdo, no bloco F, fica o Gästeblock (o sector para os adeptos visitantes) que parece ter pouco ou nenhum uso em jogos da Berlin-Liga.
A última vez que os berlinenses viram um clube local ser campeão nacional de futebol foi em 1988. A cidade encontrava-se então dividida e o campeão – o Dínamo de Berlim – estava no lado leste da cidade. Não será pelo TeBe que Berlim, agora sem muro a separá-la, verá um campeão nos tempos mais próximos. Mesmo assim este clube conquistou à custa dos seus méritos no passado um espaço próprio que ainda hoje conserva.
10/04/2015
Eisenhüttenstadt – capítulo II
Depois da pausa pascal o Mata-Mata regressa à Europa com mais um episódio sobre a peculiar cidade de Eisenhüttenstadt e os seus clubes de futebol. Texto e fotografia de Diogo Calado.
Eisenhüttenstadt é certamente a cidade mais jovem da Alemanha. Não falamos da idade da população local mas da localidade em si que foi construída de raiz já depois da II Guerra Mundial em território da já extinta República Democrática Alemã (RDA). Aquela que era para ser a primeira cidade socialista em solo alemão começou por se chamar Stalinstadt mudando para o nome atual quando em 1961 se fundiu com uma localidade vizinha chamada Fürstenberg (Oder).
Apesar das intenções não se construiu mais nenhuma cidade de raiz na RDA e não consta que na República Federal da Alemanha tenha chegado a haver essa hipótese pelo que Eisenhüttenstadt se tornou numa cidade ímpar de uma Alemanha entretanto reunificada. Uma cidade industrial planeada para acolher os trabalhadores de uma fábrica de aço.
Na atualidade em Eisenhüttenstadt destacam-se três clubes desportivos: o já aqui falado 1. FC Fürstenberg 1912, o mais famoso Eisenhüttenstätdter FC Stahl que vamos deixar para outra ocasião e o mais ou menos conhecido FSV Dynamo Eisenhüttenstadt que tem a sua residência no Dynamo-Sportpark.
O Dynamo-Sportpark é um recinto desportivo igual a muitos outros espalhados pela Alemanha. Tem duas balizas claro está e dispõe de umas dezenas de lugares sentados ao longo da linha lateral a oeste. Atrás das balizas estende-se a relva natural que cobre o espaço de jogo e que por certo permite poupar este último em tempo de chuva e neve. No lado leste, junto aos bancos de suplentes, há espaço para acomodar algumas centenas de espetadores em pé se tal fosse necessário, o que não parece habitual!
Alguém definiu em 800 o número máximo de espetadores no Dynamo-Sportpark, contudo, nos anos mais recentes o máximo de assistência num jogo não chegou aos 500 adeptos. Foi em 30 de novembro de 2013 quando o Dínamo de Eisenhüttenstadt (vamos chamar-lhe assim em português como se faz usualmente com os clubes que têm Dynamo no seu nome) se cruzou num dérbi local com o Eisenhüttenstädter FC Stahl em jogo do campeonato perante 428 pessoas. Ganharam os visitantes por 4 a 1.
O Dínamo de Eisenhüttenstadt tem uma história recente que começou em 29 de janeiro de 1999 com o fim da secção de futebol do Polizeisportverein Eisenhüttenstadt ou PSV Eisenhüttenstadt como era mais conhecido. Nos primeiros anos de vida do Dínamo de Eisenhüttenstadt o clube teve de lutar pela posse do recinto de que hoje é o orgulhoso proprietário. Quando tal lhe foi concedido em 2003 começou a desenvolver as infraestruturas existentes. Um antigo pavilhão de uma escola vizinha foi convertido nos balneários do campo e nos escritórios do clube. Iluminação artificial foi instalada para permitir treinos noturnos e o espaço para os espetadores criado procurou dar o máximo de conforto a estes em bancos e cadeiras semelhantes aqueles que se encontram em jardins e parques públicos.
No início da época de 2006/2007 foi um Dynamo-Sportpark de cara lavada que o Dínamo de Eisenhüttenstadt apresentou aos seus poucos seguidores. Desde então o clube tem escalado patamares na enorme pirâmide do futebol alemão e na época de 2014/2015 está no sétimo escalão disputando a Landesliga Süd.
Mais um capítulo na saga por Eisenhüttenstadt, uma cidade definitivamente diferente na Alemanha.
27/03/2015
Sabia que na Alemanha há uma cidade socialista? O Mata-Mata foi até lá e nos próximos tempos irá relatar a história dos principais clubes de futebol dessa cidade. Hoje ficamos a conhecer o 1. FC Fürstenberg 1912 e o seu estádio. Texto e fotografia de Diogo Calado.
Ir ao Stadion Fürstenberg significa ir a Eisenhüttenstadt uma cidade na Alemanha com uma história por demais diferente das restantes naquele país. Eisenhüttenstadt fica sensivelmente a uma centena de quilómetros da capital Berlim e o que torna esta cidade verdadeiramente única em território alemão é o facto de ter sido construída de raiz no início da década de 1950 como uma cidade socialista modelo – relembremo-nos que esta parte da Alemanha era então território da já extinta República Democrática Alemã (RDA).
Inicialmente a cidade era para se chamar Karl-Marx-Stadt para homenagear Karl Marx que havia morrido 70 anos antes. No entanto, a morte de Josef Stalin em março de 1953 mudou os planos originais e a primeira (e única) cidade socialista em solo germânico ficou com o nome de Stalinstadt.
Stalinstadt cresceu e desenvolveu-se em redor de uma fábrica de aço. Quando o processo de “desestalinização” chegou à cidade não bastava, ao contrário de outros locais, mudar o nome de uma ou outra rua e apagar uma ou outra memória do Pai dos Povos. Em Stalinstadt havia que mudar o nome da cidade e então esta em 13 de novembro de 1961 foi fundida com a localidade vizinha de Fürstenberg (Oder) formando-se Eisenhüttenstadt. Se Stalinstadt foi uma obra de regime Fürstenberg (Oder) tinha uma história que remontava ao século XIII e havia sido um importante ponto de paragem entre Berlim e Breslau (a atual Wroclaw). Mas o que interessava isso? Nada!
Com esta fusão o 1. Fuβballclub Fürstenberg 1912 passou a ser um dos clubes de Eisenhüttenstadt, embora tendo de viver na sombra do BSG Stahl Eisenhüttenstadt, o clube dos trabalhadores da fábrica de aço e que chegou a andar pela Oberliga, o principal escalão do futebol da RDA.
O Fürstenberg como o próprio nome indica foi fundado em 1912 e a partir de 1924 começou a utilizar o local onde hoje está o Stadion Fürstenberg. Em 1926 o Stadion Fürstenberg foi inaugurado com uma partida entre o Fürstenberg e uma equipa oriunda de Frankfurt (Oder) que os visitados ganharam por 3 a 0. Em fevereiro de 1989 um incêndio destruiu o edifício de apoio ao recinto de jogo. Pelo meio, entre 1926 e 1989 não consta que tenham havido grandes mudanças no recinto do Fürstenberg. Já o clube residente teve de mudar de nome várias vezes por vontade política de quem mandava na RDA (a dada altura foi BSG Motor Eisenhüttenstadt, por exemplo).
Em 1994 foi construído o atual edifício de apoio no lado oeste do recinto e no ano seguinte o clube voltou a ter a denominação original. Mais tarde a natureza pregou algumas partidas no campo do Fürstenberg. Duas enchentes do rio Oder, que passa nas proximidades, deixaram o recinto impraticável em 1997 e 2010 e em 2008 foram javalis a deixar o relvado sem condições para aí se jogar!
O Stadion Fürstenberg pode acolher cerca de 2000 espetadores dos quais uns 200 terão lugar nos bancos de jardim que se encontram espalhados ao longo do lado oeste. Contudo, com o Fürstenberg a disputar a Kreisliga Ostbrandenburg Süd no décimo patamar da pirâmide do futebol alemão não parece crível que haja 2000 espetadores interessados em acorrer ao Stadion Fürstenberg!
13/03/2015
Chegou a hora de falarmos no Tasmânia de Berlim! O Mata-Mata revisita a história da equipa com a pior prestação na história do principal campeonato da República Federal da Alemanha. Texto e fotografia de Diogo Calado.
Esta é uma história relativamente conhecida e que há muito faz parte do anedotário do futebol internacional mas vale sempre a pena recordá-la. Situemo-nos em 1965 numa Alemanha dividida em dois. O Hertha de Berlim era o único clube de Berlim Ocidental a disputar a Bundesliga, o principal escalão da República Federal da Alemanha (RFA). Contudo, ao quebrar as regras salariais da liga foi despromovido deixando a cidade sem representação ao mais alto nível no futebol da RFA, o que representava sobretudo um problema político em plena Guerra Fria.
Desde logo surgiram vários pretendentes para ocupar o lugar do Hertha de Berlim a começar nas equipas que acabaram nos lugares de despromoção da Bundelisga no final da época de 1964/1965, Karlsruher SC e FC Schalke 04.
Para agradar a todos e conseguir meter à força uma equipa de Berlim Ocidental na Bundesliga a Federação Alemã de Futebol alargou o campeonato de 16 para 18 equipas evitando as despromoções dos já referidos últimos classificados e foi em busca de uma equipa de Berlim Ocidental que ocupasse a vaga deixada pelo Hertha.
Como o Berliner Tennis-Club Borussia não logrou a promoção nos jogos de acesso à Bundesliga (uma das equipas promovidas foi um tal de Bayern de Munique, hoje colosso do futebol europeu) e o Spandauer SV recusou a promoção, a duas semanas do começo da época de 1965/1966 abriram-se as portas ao Sport-Club Tasmania von 1900 Berlin.
Apesar de ter um campo próprio, o Sportpark Neukölln, o clube foi convidado a jogar na Bundesliga no enorme e majestoso Estádio Olímpico de Berlim. Apesar de uma vitória em casa a abrir o campeonato por 2 a 0 frente ao Karlsruher SC o Tasmânia tornou-se na pior equipa de sempre da Bundesliga ao fazer apenas 8 pontos em 68 possíveis e marcando apenas 15 golos e sofrendo 108 em 34 jogos. No final da época acabou despromovido e Berlim Ocidental ficou sem equipa na Bundesliga na época seguinte.
O Tasmânia continou a sua vida no Sportpark Neukölln (desde 2004 Werner-Seelenbinder-Sportpark e na fotografia em baixo) e na Regionalliga Berlin até 1973 ano em que declarou a falência e fechou as portas. De imediato foi fundado um sucessor o SV Tasmania 73 Neukölln que hoje se denomina SV Tasmania Berlin e que disputa na época de 2014/2015 a Berlin-Liga (no sexto patamar do futebol alemão).
O Tasmânia de hoje pode já não ser aquele que está na galeria dos maiores logros do futebol internacional mas é o orgulhoso sucessor deste. Um clube que ganhou espaço no mapa do futebol internacional por força de decisões políticas de um mundo então dividido em dois blocos.
06/03/2015
Arquitetura em Cáceres
Esta semana espreitamos o palco do jogo onde o Cádiz CF vai defender a liderança do grupo 4 da Segunda División B de Espanha. E porquê? Porque neste estádio, em Cáceres, tentou-se reproduzir um pouco da história da cidade na sua arquitetura. Viagem a Cáceres com texto e fotografia de Diogo Calado.
Quem visita Cáceres, em Espanha, vai à procura dos encantos da Cidade Velha (Património Mundial da UNESCO) e do legado deixado por Mouros e Cristãos que se reflete na arquitetura da zona antiga da cidade, que apresenta uma enorme variedade de estilos: românico, islâmico, gótico setentrional e renascentista italiano. Inusitadamente o arquiteto que projetou na década de 1970 o novo recinto desportivo da cidade, o Estadio Príncipe Felipe, não quis perder a oportunidade de espelhar na arquitetura deste um pouco da história da cidade localizada na comunidade autónoma da Estremadura a menos de 100 quilómetros da fronteira com Portugal.
Este estádio sobressai pela fachada da Tribuna e as suas doze torres, cada uma das quais decorada com vitrais. Estas torres piramidais, que fazem alusão às muitas torres existentes na Cidade Velha, sustentam a cobertura que paira sobre a bancada assemelhando-se aos foles de uma concertina. Cadeiras verdes e brancas cercam os lugares reservados para as individualidades ao centro onde, quase como um altar, se distingue o emblema do clube da casa. O regresso ao mundano faz-se com a constatação de que não tem passado muito futebol de topo pelo Príncipe Felipe notando-se alguma degradação e, até mesmo, abandono.
O Estadio Príncipe Felipe é utilizado pelo Club Polideportivo Cacereño. Este clube habituado a andar pelos escalões inferiores de Espanha foi fundado em 1919 então como Club Deportivo Cacereño. Os anos 70 do século XX foram de mudança, a começar pelo nome que passou a Club Polideportivo Cacereño após a fusão com um clube de basquetebol da cidade. Em 1976 o município entendeu construir um novo estádio de futebol, o que se configurava como um novo amanhecer para o Cacereño que, há mais de 25 anos, jogava na Ciudad Deportiva municipal. O Estadio Príncipe Felipe foi inaugurado em 26 de março de 1977 com um jogo entre o Cacereño e uma seleção de jogadores da Estremadura, que estes últimos venceram por 2 a 1.
Na época de 2014/2015 o Cacereño disputa o grupo 4 da Segunda División B, o terceiro escalão de Espanha. Neste fim de semana que se avizinha irá receber o líder da prova, o Cádiz CF, num jogo que será de dificuldade elevada para o clube da casa que se encontra estacionado no meio da tabela. É pouco provável que o estádio venha encher, embora as doze torres da Tribuna do estádio estejam lá para dar as boas vindas a quem aparecer!
27/02/2015
O Mata-Mata vai até à Escócia para verificar o resultado da fusão entre os dois maiores clubes de Inverness há 20 anos atrás. Como vamos descobrir nem sempre um mais um dá dois e neste caso a cidade ganhou um clube de primeira divisão. Texto e fotografia de Diogo Calado.
Imaginem que Grémio e Internacional se juntavam num só para formar um grande clube em Porto Alegre. Que brado daria! Pois bem em Inverness, a cidade mais a norte da Escócia, foi o que aconteceu. Em agosto de 1994 Caledonian FC e Inverness Thistle FC fundiram-se num só dando origem ao Caledonian Thistle FC.
No entanto, havia um motivo por trás desta fusão: formar um clube forte que pudesse pôr a cidade no mapa do futebol escocês. Tanto o Caledonian FC como o Inverness Thistle FC andavam perdidos nos escalões inferiores da Escócia e a fusão foi a solução lógica encontrada para pôr um clube de Inverness a jogar entre os grandes.
Uma das premissas para avançar para a fusão foi a certeza de que esta se faria acompanhar da construção de um novo estádio na cidade. Em 1996, dois anos depois da fusão era inaugurado o Caledonian Stadium (oficialmente, desde janeiro de 2005, Tulloch Caledonian Stadium por causa de uma empresa de construção civil que construiu parte do estádio em tempo recorde). Foi também em 1996 que o clube ganhou a designação atual, Inverness Caledonian Thistle Football Club, com a palavra Inverness a ser acrescentada ao nome do clube a pedido do governo local que havia contribuído com uma generosa quantia de dinheiro para a construção do estádio.
Os primeiros dez anos de vida do Caley Thistle foram passadas pacientemente entre o quarto e o segundo patamar do futebol escocês. Parte do sonho estava realizado pois pela primeira vez Inverness tinha uma equipa a competir nas provas organizadas pela Scottish Football League (SFL).
Finalmente no final da época de 2003/2004 chegou a tão ansiada promoção à Premier League. O Inverness CT iniciou a época de estreia na Premier League jogando como visitado em Aberdeen, a uns 170 quilómetros de distância de Inverness e só após a conclusão das obras de aumento da capacidade do estádio é que as Terras Altas da Escócia receberam pela primeira vez na sua história um jogo da Premier League. Em 29 de janeiro de 2005 o Inverness CT recebeu e venceu por 2 a 0 o Dunfermline AFC.
Com uma lotação maior rapidamente as legiões de adeptos dos maiores clubes escoceses passaram a deslocar-se em maior número ao norte da Escócia. Em 16 de março de 2005 num jogo entre Inverness CT e Celtic FC de Glasgow estiveram 7045 espetadores no Caledonian Stadium. Em 6 de agosto desse ano a marca foi quebrada (7512 espetadores) com a visita da outra equipa grande de Glasgow, o Rangers FC. Em agosto de 2007 e em janeiro de 2008 dois jogos com este último levaram, respetivamente, 7711 e 7753 adeptos ao Caledonian Stadium.
Depois de uma fugaz época no segundo escalão, em 2009/2010, o Caley Thistle voltou mais forte do que nunca e encontra-se estabilizado na principal liga da Escócia cumprindo os propósitos que levaram à fusão de dois clubes rivais.
Em Porto Alegre tal não seria necesário, pelo menos aos olhos do adepto europeu que acompanha o futebol brasileiro: Grémio e Internacional são dois grandes clubes e a salutar rivalidade entre adeptos só os torna ainda mais fortes!
23/02/2015
O Mata-Mata vai até à República Tcheca relembrando o famoso penaltie à Panenka (ou cavadinha) que até Neymar já tentou imitar sem sucesso ao serviço do Santos FC. Texto e fotografia desde Praga de Diogo Calado.
Todos os verdadeiros aficionados por futebol sabem quem é Antonín Panenka. Eternizado graças à forma como converteu o penaltie decisivo que deu o título europeu à Checoslováquia em 1976 Antonín Panenka é recordado sempre que um jogador tenta converter uma grande penalidade recorrendo a um suave golpe que leve a bola a entrar no meio da baliza. O que já menos adeptos do beautiful game saberão é qual o clube que Antonín Panenka representou durante a maior parte da sua carreira. A resposta é: Bohemians de Praga!
Este clube da República Tcheca fundado em 1905 denomina-se atualmente Bohemians Praha 1905 e desde a sua fundação até hoje já mudou de nome por mais de dez vezes, embora mantendo-se quase sempre fiel à alusão à Boémia!
Antonín Panenka, nascido e criado em Praga que era então a capital da Tchecoslováquia, chegou ao Bohemians com 9 anos decorria 1958 e por lá ficou até 1981. É seguro afirmar que ao longo da sua carreira o Ďolíček foi o estádio que mais vezes viu atuar este médio ofensivo.
O Ďolíček sempre foi a casa do Bohemians desde que foi inaugurado em 27 de março de 1932. Desse dia sobram os registos de uma multidão de 18000 pessoas que acorreram ao novo estádio do Bohemians para assistir à inauguração que contemplou uma partida entre Bohemians e SK Slavia Praha e outra entre SK Viktoria Žižkov e Teplitzer FK.
Após alguns ajustes e melhoramentos em 1971 o Ďolíček entrou no século XXI com 13388 lugares dos quais apenas 3028 eram sentados. Em 2003 obras de melhoramento elevaram os lugares sentados para 3800 reduzindo a lotação do estádio para 9000 lugares. Em 2007 a necessidade de um maior número de lugares sentados para cumprir com os requisitos do primeiro escalão checo tornaram o Ďolíček num estádio só com lugares sentados. Contudo, tudo tem um preço e o preço pago pelo Ďolíček para cumprir com essa obrigação foi ver a sua lotação diminuir para os 5000 lugares. Ainda assim, o Ďolíček é um recinto funcional em que se manteve um equilíbrio entre as necessárias obras de modernização e o passado. Com muitos ou poucos espetadores esta será sempre a casa do eterno Panenka, o homem do penaltie mais famoso do mundo!
18/02/2015
Há quem diga que o vinho expande a mente e faz bem à saúde desde que consumido moderadamente! Mas daí a pôr em prática a ideia de colocar uma vinha num estádio vai uma grande distância. Não no Stadion Wilmersdorf! Texto e fotografia de Diogo Calado.
O Stadion Wilmersdorf fica no sudoeste de Berlim (Alemanha) e é um estádio habituado a receber provas e eventos de diversas modalidades desde o atletismo ao futebol passando pelo futebol americano. Foi construído entre 1948 e 1951 na então dividida cidade de Berlim ficando na zona ocidental desta e foi projetado para ter 50000 lugares.
Inaugurado no início de maio de 1951 registou o seu recorde de assistência logo no jogo inaugural. Essa partida opôs o Berliner Sport-Verein 1892 (o BSV 92, clube que ali tem a sua casa) ao Berliner Tennis-Club Borussia (o atual Tennis Borussia Berlin) e terminou com uma igualdade a um presenciada por uns 19500 adeptos.
Depressa o estádio mostrou ter uma capacidade desproporcionada para o número de seguidores do BSV 92. A título de exemplo, durante a época de 1953/1954 o BSV 92 colecionou vitórias que o qualificaram para os jogos de apuramento de campeão da Repúlica Federal da Alemanha. Apesar disso ao Stadion Wilmersdorf apenas acorreram em média pouco mais de 6000 espetadores durante a época.
As bancadas vazias levaram a que, em 1984, na curva mais a norte do estádio fosse plantada uma vinha para a produção de vinho! Desde então todos os anos dali saem uvas para produzir um vinho denominado "Wilmersdorfer Rheingauperle". Na fotografia pode-se observar uma clareira com estacas para suportar as videiras na antiga bancada.
Em 1991 o estádio foi parcialmente remodelado com a construção de uma nova tribuna principal e em 2005 foi construída uma pequena bancada no lado oposto deixando o estádio com uma capacidade próxima dos 4000 lugares, um número bem mais razoável para as necessidades do BSV 92.
Apesar destas obras a antiga curva norte foi preservada e nos antigos degraus que antes recebiam os poucos adeptos do BSV 92 continua a produzir-se vinho! O que faltou em perspicácia em 1948 sobrou em imaginação em 1984 quando se reaproveitou parte das bancadas vazias para ali plantar uma vinha. Um estádio no mínimo diferente!
06/02/2015
Demolido mas não esquecido
Sarrià diz muito ao RCD Espanyol mas também ao futebol brasileiro. Dezoito anos depois da demolição deste histórico estádio o Mata-Mata volta ao “local do crime”. Texto e fotografia de Diogo Calado.
Foi aqui que o futebol brasileiro perdeu a sua inocência! A quase 8510 quilómetros do Maracanã foi no Estadi de Sarrià (em Barcelona), na tarde de 5 de julho de 1982, que Paolo Rossi e Enzo Bearzot enterraram definitivamente o romantismo do futebol do imenso Brasil. Após este dia não mais bastou à seleção brasileira pôr os seus melhores jogadores em campo. Ainda havia espaço para os grandes talentos individuais no ataque, mas estes tinham que estar incorporados em algo organizado que lhes providenciasse apoio e cobertura. Este foi o dia em que a tática ganhou e só por isso Sarrià valeu a pena. Mas este recinto tem muito mais para contar para além daquele jogo do Mundial de 1982 entre Itália e Brasil (3 a 2).
Inaugurado em 18 de fevereiro de 1923, em plena época de euforia do futebol catalão e com capacidade para 10000 espectadores, o recinto recebeu o nome da estrada que ligava Barcelona a Sarrià, que recentemente se havia tornado em mais um bairro da Cidade Condal. Foi aqui que se marcou o primeiro golo da história do principal campeonato espanhol. A 10 de fevereiro de 1929, no dia do arranque da primeira edição da Primera División de España, Pitus Prat inaugurou o marcador e ajudou à vitória do Espanyol por 3 a 2 sobre o Real Unión de Irún.
Nas décadas de 50, 60 e 70 do século XX o estádio foi sucessivamente ampliado até atingir a lotação máxima de 44000 lugares. Quando a Espanha recebeu o Mundial de 1982 Sarrià foi escolhido para acolher os três jogos do grupo 3 da segunda ronda. E que seleções recebeu o recinto: a Itália de Zoff, Gentile, Tardelli e Rossi, o Brasil de Zico, Sócrates, Cerezo e Falcão e a Argentina de Maradona, Kempes e Passarella! O já recordado jogo entre Itália e Brasil permanece como um dos melhores encontros disputados na fase final da competição.
Em 1992 Sarrià recebeu algumas partidas do Torneio Olímpico de Futebol. Cinco anos depois, perante uma grave crise financeira do Espanyol, acabou por ser vendido a promotores imobiliários. Em 21 de junho de 1997 caiu definitivamente o pano num jogo a contar para a última jornada do campeonato espanhol entre Espanyol e Valência CF. Venceu a equipa catalã, por 3 a 2 com José Cobos a marcar o último golo. Em setembro do mesmo ano iniciou-se a demolição do estádio e no terreno foram erguidos imóveis para habitação.
No local onde se situava o relvado ficou um pequeno parque que faz questão de recordar que ali, durante mais de 74 anos, se jogou futebol ao mais alto nível! O Espanyol nos anos seguintes jogou no Estádio Olímpico de Montjuic até que, em 2009, se mudou para o Estadi Cornellà-El Prat, construído nos arredores de Barcelona pelo clube que mesmo vivendo na sombra do FC Barcelona consegue manter o seu espaço na Cidade Condal.
30/01/2015
Taksim, muito mais que uma praça!
O Mata-Mata espreita esta semana aquele que foi o primeiro campo de futebol digno desse nome na enorme, monumental e histórica cidade de Istambul. Texto e fotografia de Diogo Calado.
No final do mês de maio de 2013 o Parque Gezi, em Istambul, saltou para as primeiras páginas dos jornais e foi notícia de abertura nos noticiários um pouco por todo o mundo. Em causa estava a destruição deste parque urbano bem próximo da popular Praça Taksim onde se destaca o Monumento à República que homenageia os fundadores da República da Turquia (ver fotografia).
Depressa o protesto degenerou em manifestações um pouco por todo o país tendo como alvo principal o Primeiro-Ministro Recep Tayyip Erdoğan. Para além da preservação do parque, a única zona verde digna desse nome naquela parte de Istambul, reclamava-se uma maior transparência e democracia nas decisões políticas tomadas por quem governa.
De entre as inúmeras páginas de jornal e horas de notícias sobre o Parque Gezi escapou, contudo, aos jornalistas um pormenor sobre o passado deste. Antes de ter sido transformado num parque público foi local de um campo de futebol da cidade que então se chamava Constantinopla.
Recuar até aos tempos em que Istambul era Constantinopla é regressar aos tempos do Império Otomano. O futebol chegou ao imenso império algures em 1875 levado por ingleses residentes em Salonica (hoje uma cidade grega). O “beautiful game” depressa chegou à capital do Império, Constantinopla, e em 1904 surgiu a primeira competição de clubes.
O interesse crescente pelo jogo levou a que se fizesse, em 1921, no pátio do Quartel de Artilharia de Taksim um campo de futebol: o Taksim Stadı. Este foi o primeiro campo de futebol digno desse nome na parte europeia da cidade que então se encontrava ocupada por britânicos, franceses e italianos na sequência da derrota do Império Otomano na I Guerra Mundial.
No dia 29 de outubro de 1923 foi declarada a independência da República da Turquia mas, três dias antes a seleção nacional representativa da nova nação já havia disputado a sua primeira partida, perante a Roménia (terminou 2 a 2), num encontro que teve como palco o Taksim Stadı. Até 1939 o Taksim Stadı foi o recinto preferencialmente utilizado pela seleção da Turquia nos seus jogos em casa, além de ter visto desfilar aqueles que hoje são os clubes turcos mais titulados – Galatasaray SK, Fenerbahçe SK e Beşiktaş JK.
Quando foi encerrado definitivamente em 1939 este recinto localizado na parte europeia da cidade tinha capacidade para receber entre 8000 e 10000 espetadores. No ano seguinte o quartel deu lugar a um parque urbano, o agora famoso Parque Gezi.
Mais de 70 anos depois da abertura do parque alguém se lembrou que era boa ideia reconstruir o quartel para aí colocar um centro comercial. Nem todos os turcos acharam boa ideia e assim nasceu por entre os "filhos" de Mustafa Kemal Atatürk, o pai da nação turca, uma consciência cívica que abalou o país.
23/01/2015
O Mata-Mata foi até à capital da Suíça saber mais sobre um centenário campo de futebol que na I Guerra Mundial chegou a servir para cultivar batatas! Mais um artigo com fotografia em exclusivo desde a Europa do treinador português Diogo Calado.
Próximo do centro de Berna (capital da Suíça) encontra-se um pequeno campo de futebol com uma bancada de madeira que resiste à passagem do tempo. Esta é a casa do FC Breitenrain, emblema fundado em 4 de março de 1994, fruto da fusão de dois clubes cujas origens remontavam ao princípio do século XX. O seu nome oficial: Sportplatz Spitalacker, em referência ao bairro onde se localiza (Spitalacker), mas mais conhecido entre os adeptos como Spitz.
As primeiras referências ao Spitalacker remontam ao início do século XX, altura em que o campo começou a ser utilizado pelo FC Young Boys (hoje BSC Young Boys e um dos principais clubes do país). Como em tempo de guerra não se limpam armas, durante a I Guerra Mundial o Spitz foi transformado em campo de batatas, voltando a servir para a prática do beautiful game após o Armistício.
Em 1931, quando o BSC Young Boys já atuava noutro estádio bem maior, o FC Zähringia e o FC Minerva fizeram do Spitalacker a sua casa. Apesar de partilharem a mesma casa estes dois clubes demoraram quase 70 anos a fundirem-se num só. Talvez os responsáveis de cada uma das coletividades não acreditassem que esse pudesse ser o caminho para criar um clube mais forte ou talvez não vissem nisso uma prioridade. O que é certo é que nem o FC Zähringia, nem o FC Minerva alcançaram uma posição de relevo no futebol suíço. E assim , desde 1931 que o Spitalacker foi sendo palco de inúmeros encontros dos obscuros escalões inferiores suíços.
Em 1994 os dois clubes fundiram-se num só originando o FC Breitenrain. Desde a fusão até aos dias de hoje a história do Breitenrain não é muito diferente das dos seus antecessores. Tal como acontecia com o FC Zähringia e o FC Minerva os jogadores mais talentosos do clube acabam a jogar em equipas de maior dimensão.
Assim sendo, no Spitz joga-se pela alegria de jogar e com o sonho de um dia representar um grande clube. Neste campo cabem umas 400 pessoas na rústica bancada de madeira com lugares cobertos que embeleza o campo e os sonhos dos jovens jogadores do FC Breitenrain que um dia sonham dar o salto para os grandes estádios do futebol europeu!
12/01/2015
O mais antigo estádio da Estônia
O Mata-Mata desta vez vai até à Estônia, pequeno país do Báltico que em tempos integrou a União Soviética. A razão da visita é simples: ficar a conhecer melhor o mais antigo recinto desportivo do país. Texto e fotografia de Diogo Calado.
Tradição e uma longa história. É desta forma sucinta que se pode descrever o Kadrioru staadion, o primeiro recinto desportivo digno desse nome que se construiu na Estônia já lá vão várias décadas. Sonho antigo, imaginado ainda antes do começo da I Guerra Mundial, apenas se tornou uma realidade na década de 1920 quando a Estônia experimentou o seu primeiro período de independência. Período conturbado que durou de 1918 a 1940 e em que a jovem república experimentou vinte e um governos diferentes mas, ainda assim, houve capacidade e vontade suficientes para erguer em Taline (a capital) um recinto onde os melhores desportistas estónios pudessem elevar o nome do novo país.
Construído entre 1924 e 1926 o Kadrioru foi inaugurado em 13 de junho de 1926 num dia que teve como ponto alto a disputa de um jogo entre as seleções nacionais da Estônia e da Lituânia que terminou com a vitória dos da casa por 3 a 1.
Até à ocupação soviética em 1940 é extensa a lista de jogos de futebol e eventos de outras modalidades (sobretudo atletismo) que ocorreram no Kadrioru, destacando-se em julho de 1931 a visita da então famosa equipa austríaca do WAC. Perante o SK Tallinna Sport (já extinto mas então uma das potências do futebol local) os austríacos baquearam por 3 a 1 naquele que foi considerado o melhor jogo visto até então em Taline.
Em maio de 1938 foi inaugurada uma nova bancada principal (a mesma que ainda hoje se encontra no estádio, embora com várias operações de cosmética para disfarçar o passar dos anos) em substituição da bancada original. Em 18 de julho de 1940 o Kadrioru recebeu a última partida da Estônia durante mais de cinco décadas, uma vitória sobre a Letónia por 2 a 1, ocorrida quando a Estônia já se encontrava ocupada pelo Exército Vermelho. Apenas em 3 de junho de 1992 é que a seleção nacional da Estônia voltaria a disputar uma partida internacional tendo o histórico Kadrioru sido o palco escolhido.
Durante o período de ocupação soviética que pelo meio teve um período de ocupação alemã (entre 1941 e 1944) o Kadrioru foi redenominado Dünamo staadion em alusão ao clube do regime fundado imediatamente após a ocupação soviética de 1940 que ali passou a jogar, o Tallinna JK Dünamo (Dínamo de Taline em português).
Após a restauração da independência em 1991 o estádio voltou a ter a denominação original – Kadrioru staadion – e manteve-se como a casa preferencial da seleção da Estônia sempre que jogava em Taline até à inauguração da mais moderna A. Le Coq Arena em 2001.

02/01/2015
O fim do início perfeito da Lituânia
Depois das festividades natalícias de fim de ano o Mata-Mata volta a olhar atentamente para as classificatórias da Eurocopa de 2016. Desta feita vamos saber como terminou aos pés da Eslovénia o início perfeito da Lituânia no grupo E. Texto e fotografia em exclusivo para o Mata-Mata de Diogo Calado.
Encontrar a Lituânia no mapa pode ser uma tarefa complicada para quem não está familiarizado com o mapa da Europa. É preciso procurar atentamente na parte mais a norte do velho continente, mais concretamente no Báltico. Este pequeno país com vários séculos de história e que foi ao longo da Guerra Fria uma das repúblicas da União Soviética nunca granjeou muitos sucessos no futebol, ao contrário do basquetebol onde costuma dar cartas nas grandes provas internacionais.
Ainda assim, tudo parecia estar mudando quando começaram as classificatórias para a Eurocopa de 2016. O conjunto lituano foi vencer na casa da modesta seleção de San Marino por 2 a 0 e depois venceu em casa, por 1 a 0, a rival Estônia. Com seis pontos em dois jogos e num grupo que tem à cabeça a Inglaterra e a Suíça o jogo com a Eslovénia revestia-se de especial importância para começar a definir qual das duas equipas teria maior probabilidade de ficar com o terceiro posto que pode dar apuramento direto para a Eurocopa de França em 2016 ou pode levar a uma rodada eliminatória com terceiros classificados de outros grupos.
Jogando em casa no pequenino LFF stadionas (o estádio da Federação Lituana de Futebol) a Lituânia não se consegiu impôr e um par de golos do veterano avançado esloveno Milivoje Novaković ainda antes do intervalo deitaram por terra as aspirações lituanas em conseguirem os três pontos. A Eslovénia não esteve em Vilnius (a capital da Lituânia) a passear e foi durante a maior parte do encontro a equipa mais capaz e com mais argumentos para assegurar a vitória.
Os lituanos podem argumentar que sofreram os dois golos num curto espaço de tempo e enquanto se reorganizavam após uma substituição forçada na defensiva, no entanto, analisando o jogo e as estatísticas deste a Eslovénia apresentou-se mais capaz de lutar pelos postos de apuramento do que a Lituânia que assim terá de esperar pela próxima classificatória (que será a de apuramento para a Copa do Mundo de 2018) para puder sonhar com uma estreia em provas internacionais.
De entre os torcedores lituanos sentados nas instáveis bancadas pré-fabricadas do estádio a meio do segundo tempo já se faziam contas aos jogos seguintes, nomeadamente ao de Wembley com a Inglaterra. Um torcedor mais pragmático contrapunha que o jogo com San Marino (uma das mais frágeis equipas nacionais do mundo) é que serviria para a Lituânia regressar aos bons resultados! Na bancada oposta um pequeno grupo de eslovenos festejava a vantagem e a cada vez mais óbvia vitória (ficou 2 a 0 para a Eslovénia). Retratos de mais um jogo nesta Europa que não se faz apenas do “glamour” dos grandes estádios e das grandes equipas!
19/12/2014
Diogo Calado esteve na Letónia vendo com os seus olhos o porquê da Islândia estar dando que falar nas rodadas de qualificação para a Eurocopa de 2016. Será que no final das rodadas todo o mundo vai poder dizer que deu zebra? Mais um artigo original e exclusivo para o Mata-Mata desde a Europa. Texto e fotografia de Diogo Calado.
A fase de qualificação para a Eurocopa de 2016 está em andamento e com a novidade do alargamento da fase final da competição de 16 para 24 equipas todos podemos esperar algumas estreias e surpresas em França daqui a um ano e meio. Com quatro rodadas da fase de qualificação disputadas começam a emergir os candidatos mais fortes a marcar presença em França mas, de entre os candidatos menos óbvios, há quem não se conforme e queira dar uso à velha expressão "deu zebra"! Para já País de Gales, Eslováquia, Irlanda do Norte e Islândia estão dando que falar, sobretudo esta última que das quatro é a única que nunca participou numa fase final de uma grande competição internacional.
A seleção nacional deste país nórdico perdido entre o Atlântico Norte e o Ártico leva três vitórias em quatro jogos no grupo A tendo batido em casa a Turquia (3-0) e a Holanda (2-0) e fora a Letónia (3-0). Apenas perdeu na deslocação à República Tcheca (1-2) mas obrigando os tchecos a virar o resultado.
No jogo com a Letónia, em Riga (a capital deste país do Báltico), a Islândia mostrou o porquê de ser uma das surpresas. Sem grandes estrelas individuais os homens comandados pelo experiente técnico sueco Lars Lagerbäck valem pelo seu conjunto. Jogando num 4x4x2 clássico apostam num futebol simples e objetivo, sem se exporem muito ao erro e procurando aproveitar o erro do adversário. No pequeno Skonto stadions, o estádio do Skonto FC de Riga onde também joga a seleção nacional da Letónia, os islandeses estiveram como peixe na água perante uma equipa local que querendo agradar aos seus adeptos se expôs em demasia e que foi algo ingénua em determinados momentos. Apesar de tudo, somente após a expulsão de um jogador letão é que surgiram os golos. O primeiro tento, aquele que começou a definir a história do jogo, foi um caso clássico de ingenuidade e de falta daquela "malandrice" típica de outros futebóis! O guarda-redes da Letónia, o veterano Aleksandrs Koļinko, saiu da sua área para varrer a bola pela linha lateral. No lugar de agarrar numa bola e retornar à baliza com ela para recuperar a sua posição sem que o jogo se reiniciasse limitou-se a correr para a baliza. O apanha-bolas, ingenuamente, colocou de imediato um esférico nas mãos de um islandês que surgiu para cobrar o lançamento. Resultado de tudo isto: em poucos segundos e ainda antes de Koļinko chegar à sua baliza já Gylfi Sigurdsson empurrava a bola para a baliza deserta! A jogar contra dez e em vantagem o caminho ficou aberto para a conquista de mais três pontos que põem cada vez mais islandese sonhando com uma estreia em provas internacionais da sua seleção masculina.
O que acontecerá depois, em caso de apuramento, é uma incógnita. Mas para um país sem expressão futebolística e isolado do resto do continente europeu uma possível presença em França será por si só já um motivo de festa independentemente daquilo que os rapazes vindos do frio possam vir a fazer quando chegar a hora de defrontarem os grandes do velho continente!
12/12/2014
O estádio mais refrescante do mundo!
Desta vez a viagem do Mata-Mata até ao continente europeu leva-nos a um local especial. Uma viagem à segundona inglesa e ao centenário clube londrino Brentford Football Club. Mais um artigo e fotografia em exclusivo para o Mata-Mata do treinador português Diogo Calado.
Quem visita o Griffin Park dificilmente passa sede! O estádio do Brentford Football Club (clube de Londres fundado em 10 de outubro de 1889) tem a particularidade de ter nas ruas que o ladeiam quatro bares (aquilo que os ingleses chamam de “pub”) à disposição dos adeptos mais sedentos, cada um deles localizado nas proximidades de cada um dos quatro cantos do estádio. O próprio estádio foi buscar o seu nome ao animal (“griffin” quer dizer grifo em inglês) em destaque no emblema da cervejeira que em tempos foi proprietária do terreno onde o estádio foi construído. Por outras palavras, Griffin Park é provavelmente o campo de futebol mais refrescante de todo o mundo!
Situado no oeste de Londres (Inglaterra) é a casa do Brentford desde que foi construído em 1904. Inicialmente Griffin Park apenas tinha uma pequena bancada. Somente mais tarde é que o recinto de jogo ficou totalmente ladeado com bancadas.
Durante cinco épocas Griffin Park foi palco de jogos do principal escalão inglês. Após ter garantido o título de campeão do segundo escalão na época de 1934/1935 o Brentford estreou-se na época seguinte na First Division. Até ao início da II Guerra Mundial o Brentford disputou quatro edições consecutivas da First Division (1935/1936 a 1938/1939). Durante a II Guerra Mundial Griffin Park foi atingido por bombas alemãs mas no regresso da First Division após a guerra, na época de 1946/1947, o recinto estava pronto a receber jogos. Contudo, essa seria a última época do clube no principal escalão. Desde então o Brentford tem pulado ora pelo segundo, ora pelo terceiro, ora pelo quarto patamar do futebol inglês, sobretudo por estes dois últimos. Na época de 2014/2015 o Brentford e Griffin Park encontram-se de regresso à segundona, algo que não acontecia desde 1992/1993.
Desde o início do século XXI que o Brentford está na iminência de abandonar Griffin Park transferindo-se para um novo estádio com uns 20000 lugares. Após vários avanços e recuos esse novo estádio deverá ser uma realidade em 2016, ano em que Griffin Park deverá passar à história após mais de 110 anos ao serviço do Brentford. Até ao dia despedida certo é que muitos litros de cerveja correrão pelas gargantas sequiosas dos adeptos que depois do jogo têm de tomar a difícil decisão de escolher em qual dos quatro “pubs” vão festejar a vitória ou afogar a mágoa da derrota!
24/11/2014
Qualquer bom torcedor de futebol gosta de uma boa história de David contra Golias e nada melhor do que uma rodada de copa para fazer sonhar os Davides deste mundo! Mais um texto original e em exclusivo para o Mata-Mata de Diogo Calado desde a Europa com fotografia gentilmente cedida por Diogo Taborda.
Tenho trinta anos e já vi futebol em muitos estádios mas há um onde regresso sempre que posso: o Campo Eng.º Carlos Salema, na freguesia lisboeta de Marvila. Neste recinto situado na zona oriental da capital portuguesa joga o Clube Oriental de Lisboa que conta com sete presenças no escalão maior português, a última das quais na cada vez mais distante temporada de 1974/1975. Assim sendo, desde que nasci as perspetivas de ver uma equipa de primeira divisão jogar em Marvila estiveram sempre dependentes dos sorteios da histórica Copa de Portugal.
Quis o destino que, entre as temporadas de 1984/1985 e de 1987/1988, o Oriental tenha sido eliminado quatro vezes seguidas da copa por equipas de primeira em casa: Boavista FC (0-2), SC Braga (0-3), Sporting CP (2-3) e SC Espinho (1-2), respetivamente. Mas nesses tempos eu era simplesmente muito novo, demasiado novo, para ir ao velhinho Eng.º Carlos Salema. Desde então para cá a sorte havia reservado os embates com os clubes de primeira nos terrenos destes e sempre com resultados pouco animadores. Mas este ano finalmente tudo mudou. O aperitivo foi servido em setembro com uma receção ao Boavista FC na pouco apelativa e nada histórica Copa da Liga em que o Oriental se estreou este ano por via do regresso à segundona portuguesa onde já não estava há 25 anos. Jogado a meio da semana este encontro terminou com um nulo que deixou poucas saudades.
Seguiu-se o sorteio da quarta rodada da Copa Portuguesa que agendou uma viagem do primodivisionário Vitória FC de Setúbal até Marvila neste domingo. E dia 23 de novembro de 2014 foi mesmo histórico em Marvila. Pela primeira vez houve transmissão televisiva de uma partida disputada no Campo Eng.º Carlos Salema, o que obrigou a um reforço da iluminação artificial pouco ou nada habituada a estas coisas de jogos à noite desde há muitos e muitos anos. E para abrilhantar ainda mais o regresso dos grandes jogos a Marvila houve mesmo tomba-gigantes, o único desta rodada, com o popular COL a bater o Vitória de Setúbal por 1 a 0. Um golo na própria baliza de um defensor visitante logo no início da segunda metade foi suficiente mas obrigou a muitos minutos de sofrimento por parte da fiel torcida orientalista. A mesma torcida que ao longo dos anos de penumbra nos escalões inferiores continuou a acompanhar o seu clube onde quer que ele fosse. No final da partida houve lugar à exultação por parte de um público que durante muitos anos esperou por este momento.
Háuma primeira vez para tudo e eu depois de muitos jogos neste campo vi finalmente com estes olhos que a terra há-de comer uma vitória sobre uma equipa de primeira. Esperei trinta anos por este dia e se tiver de esperar mais trinta estou disposto a suportá-lo! Aqui no Oriental sabemos que não somos o maior clube, nem o que ganha mais vezes mas este continua a ser o nosso clube de sempre. Dê o mundo as voltas que der, aconteça o que acontecer, nós estamos lá sempre, nós somos o ORIENTAL. Agora venha a próxima rodada, de preferência em nossa casa e com mais uma equipa de primeira!
11/11/2014
Primeiro jogo de futebol
que se realizou sob a jurisdição das leis do jogo que estão na base das atuais regras do futebol. Esse jogo entre Barnes e Richmond ocorreu em Inglaterra (em 1863) num campo que hoje já não existe mais e que deu lugar a uma rua com casas. (foto abaixo)
Tudo começou em 1863... Ebenezer Cobb Morley, um solicitador e desportista residente no sudoeste de Londres, entendeu que era chegada a altura de definir um conjunto de regras que unificassem as diferentes versões de futebol que eram jogadas em Inglaterra. Depois de uma reunião com os capitães, secretários e outros representantes de vários clubes nasceu a The Football Association (o organismo máximo do futebol inglês) com o objetivo de estandardizar as regras e não de criar um novo jogo. O senhor Morley tornou-se no primeiro secretário da The Football Association e redigiu as primeiras regras do futebol moderno na sua casa. Após a aprovação das mesmas o primeiro jogo sob as mesmas ocorreu num sábado, em 19 de dezembro de 1863. O local escolhido foi um recinto a alguns minutos de distância da casa do senhor Morley chamado Limes Field. As equipas que se defrontaram foram o Barnes Club (o clube de Ebenezer Morley) e o Richmond Football Club. O resultado final desse jogo de estreia sob as regras definidas e que estão na base das atuais leis do jogo foi um desanimador nulo. Apesar do nulo não se pense que o futebol era jogado de forma defensiva, bem antes pelo contrário, as equipas apresentaram-se ambas naquela que era a formação mais usual na altura: dois defesas e nove avançados! Isso mesmo, sem guarda-redes cuja posição ainda não era especificada nas regras. Quanto a Limes Field ganhou lugar por direito próprio na História do futebol como o recinto onde se jogou pela primeira um encontro de futebol na sua versão moderna. Contudo, hoje apenas é recordado dando nome a uma rua situada no mesmo local onde antes o campo estava. Essa pequena rua encontra-se ladeada por edifícios habitacionais que fazem de Limes Field mais um entre tantos velhos campos que viram a construção imobiliária levar a melhor. Antes da fundação da The Football Association o futebol vivia num estado híbrido e nebuloso disputando-se ora com regras que permitiam aos jogadores receberem a bola com as mãos mas sem puderem correr com esta nas mãos, ora com regras que permitiam empurrar ou golpear a bola com as mãos mas não transportá-la. A esses homens de visão que se reuniram para formar a The Football Association o jogo e os adeptos devem muito.
Autor: Diogo Calado
Diogo Calado é português, treinador de futebol e acima de tudo um apaixonado por este magnífico e lindo jogo. Para além de ter trabalhado em vários clubes portugueses também já treinou em São Tomé e Príncipe. Autor do blog kenilworthroad.blogspot.com já visitou estádios e viu jogos ao vivo em mais de quinze países e quer continuar a aumentar esse número! Quem quiser contatá-lo tem à disposição o endereço de email diocal84@gmail.com.
(https://kenilworthroad.blogspot.com)